Poucos contos e alguns trocados.

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Retrospectiva 2013

Então, negada. Fiquei séculos sem postar aqui, então vou colocar umas paradinhas que eu me lembro do ano que passou, só pro negócio não ficar em branco.

Bem, esse ano eu comecei uma pequena coleção de CDs do Rhapsody e ela já está bem adiantada. Essa foto tá desatualizada, depois eu ainda comprei o From Chaos to Eternity, The Cold Embrace of Fear, The Frozen Tears of Angels e o Symphony of Enchanted Lands. Foto velha porque meu celular tá sem bateria.

Ps: aceito os restantes de presente.

Outra coisa boa que me aconteceu foi terminar o TCC. Foi sofrido, demorou pra caramba, mas ele está pronto, foi defendido, arrumado, e está online aqui.

Bom, depois (e por causa disso) eu me formei Bacharel em Letras - Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa.



Mas eu não larguei a faculdade. Pedi retorno pra fazer Licenciatura (ou seja, pegar minha autorização formal para torturar criancinhas) e me arrependi um punhado de vezes. Sofri pra caramba - mais que com o tcc, arrisco, afinal, era em dupla - e consegui entregar (sozinha). Ainda falta um semestre. Também fiquei satisfeita de ter dado uma oficina sobre rpg pros meus alunos no estágio - ainda bem, porque o projeto de docência me deixou desanimada.



Também perdi uns quilinhos e uns centímetros (são 75,5 na cintura, agora. Eu já tive 81). Estou pesando 66,6 kg ( já tive 72).

Esse ano eu li poucos livros, mas consegui devorar a trilogia do Senhor dos Anéis durante as aulas! - redescobri o prazer de ler =D

Também fiz um curso de maquiagem - não que eu tenha usado muito - mas fiz.

Acabei um conto essa semana (depois de um tempão sem escrever) mas não tive tempo de revê-lo e muito menos de postar. 

Por último, voltei a bordar - foi em dezembro, mas foi ótimo. Terminei hoje meu primeiro bordado do ano - e também o último - mas pretendo bordar muitos mais em 2014. 

Cachepots que eu mesma fiz (e dei de presente pra minha mãe)

Projetos pra 2014

1. Terminar a licenciatura
2. Aprender a dirigir
3. Estudar para um concurso
4. Arranjar um emprego
5. Bordar, costurar e cozinhar mais

Tá ótimo hauhaha

Enfim, Feliz Ano Novo pra todo o mundo, e muita força pra galera realizar seus sonhos!


domingo, 10 de novembro de 2013

Idade do Ouro

Lendo o Senhor dos Anéis, me deparei com uma coisa que, no filme, tu só vê no finalzinho, quando (spoilers, mas acho que todo o mundo já viu a trilogia Lotr) os elfos levam o Bilbo e o Frodo pra além do mar (a Oeste, se não me falha a memória).

Explico o que é: nessa parte, e em quase todo o livro, o narrador (provavelmente Bilbo, porque o LOTR é tradução do Livro Vermelho, escrito pelo Bilbo, ou pelo Frodo), fala nos "Dias Antigos", em que havia maravilhas na Terra Média que não voltam mais.

O Tolkien fala sobre um mundo maravilhoso e consegue te deixar deprimido porque não existem mais maravilhas!

(Provavelmente muita gente não notou isso, mas eu sou extremamente sensível pra esse tipo de coisa).

"Os hobbits, são um povo discreto mas muito antigo, mais numeroso outrora do que é hoje em dia. (...) Hoje, como no passado, não conseguem entender ou gostar de máquinas (...). Mesmo nos tempos antigos,  eles geralmente se sentiam intimidados pelas 'Pessoas Grandes', que é como nos chamam (...)"

Esse trecho, que eu retirei do Prólogo d'A Sociedade do Anel, na parte 1 - A respeito de hobbits, dá a entender que o mundo de hoje, sem magia, elfos, hobbits ou graça, é um estágio posterior à Terra Média, em que havia tudo isso, e que, por sua vez, é um estágio posterior e sem graça dos Dias Antigos.

Pra conseguir essa façanha, só posso concluir que Tolkien é um gênio! (novidade pra ninguém, mas enfim, não tou aqui pra falar disso).

Tolkien reproduziu um mito que vem lá dos gregos (eu já disse pra vocês que eu amo gregos, e romanos por extensão? Se não disse, tou dizendo agora). É o chamado Mito das Idades, segundo o qual, logo ao serem criados, os humanos viviam na chamada Idade do Ouro, em que tudo era feliz e belo. Em seguida, teve a Idade da Prata, em que o mundo era pior que o anterior, mas, ainda assim, melhor que hoje. Depois, foram as idades de Bronze e, finalmente, de Ferro, que foi a Idade vivida pelos Gregos e Romanos.
Leia mais aqui.

Hoje nós estamos vivendo a Idade do Plástico.

Piadas à parte (sim, eu tentei ser engraçada), esse mito ilustra a crença antiga de que o passado é melhor que o presente (Horácio e seu Carpe Diem e toda aquela geração de Otávio Augusto que procurava revisitar valores antigos pra salvar Roma da decadência pensavam assim - sim, os dias de glória de Roma também foram o inicio da sua decadência), por isso a tradição era muito respeitada, pois, afinal, se o passado era melhor, os costumes também eram, correto?

Hoje pensamos diferente (nem tanto, porque tem um monte de gente - jovem, até - dizendo que antigamente as coisas eram melhores - alguém conta pra eles que, se eles gostam da tradição tanto assim, é tradicional que os velhos que gostem da tradição), porque a modernidade alterou bastante o nosso pensamento, e hoje sai um celular novo toda semana, roupas diferentes, etc. Foi essa mudança de pensamento que criou a moda e as outras coisas.

O mais engraçado disso tudo é que os textos romanos, apesar de o sentimento deles ser muito mais forte que o do Tolkien (os romanos acreditavam realmente naquilo, e o Tolkien só reproduziu, afinal, ele viveu no século XX), não me passam esse sentimento de angústia por um passado que jamais retornará. Talvez porque eu sei que hoje o mundo é melhor do que naquela época - apesar de eles usarem roupas legais e não terem faculdade.

Outra coisa bem legal desse mito é que uma das versões dizia, que depois de não sei quantos mil anos de Idade do Ferro, do máximo da decadência,  voltaria a Idade do Ouro, depois a da Prata, e assim por diante. 

Percebam que ele guarda algumas semelhanças com o Paraíso cristão, segundo o qual o homem vivia num lugar maravilhoso e, por causa dos seus pecados, foi viver em um lugar ruim mas que, quando morrer, vai voltar. A diferença crucial é que ele não prevê um retorno ao lugar ruim nem um novo pecado, depois. Portanto, o tempo cristão é linear (como o nosso) e o grego era circular.

Bem, acho que é isso. Vou parar antes que eu viaje mais.


terça-feira, 22 de outubro de 2013

Edgar Allan Poe

E aí, povo, beleza? Como esse blog tá mais abandonado que não sei o quê - ultimamente tenho estado sem ideias para postar, infelizmente - resolvi migrar os posts da página do facebook que eu administro para cá. A page é a Metal Poderoso, e eu sou a #Airin.

Lá, eles se chamam Momento Literário, o que faz sentido, uma vez que eu tou postando sobre literatura e metal numa página que fala, basicamente, de metal. Interessante, não? Segundo essa mesma lógica, eu deveria mudar o nome do quadro ao postar tudo isso aqui, porque isso aqui não é um blog sobre metal. Faz sentido. 
Agora, faz mais sentido ainda dizer que eu tou com preguiça e não vou fazer isso. O nome será mantido, porque é um nome legal, e, no fim das contas,  nome é o de menos. O que importa é o conteúdo. 
Outra coisa: não vou copiar ipsis litteris o conteúdo de lá, porque o que parece muito em um post de facebook é uma migalha aqui no blog, então as postagens serão incrementadas com informações a mais e imagens e outras coisinhas. O básico será mantido, uma música que fala sobre um livro.
 Resolvi começar pelo primeiro post que fiz lá, quando o quadro nem nome tinha. Começo da mesma maneira:
A primeira coisa que eu resolvi trazer pra vocês é essa obra prima do Opera Magna, uma banda espanhola que, pra mim, lembra muito o Rhapsody (que, como vocês já sabem, é minha banda preferida, e daí podem concluir que também gosto de Opera Magna).
 O álbum, que se chama Poe, é o segundo da banda (o primeiro é intitulado El Ultimo Caballero, e também é muito bom, embora não tanto quanto o segundo).  
Observem que tem um gatinho à esquerda, referindo-se ao talvez mais famoso conto do escritor, O Gato Preto.
 Primeiro, vamos falar um pouco do Edgar Allan Poe, o cara que inspirou essa belezinha. Poe foi um autor romântico americano, considerado o criador do gênero romance policial - ele inspirou gente como Conan Doyle, Agatha Christie, Jorge Luís Borges e outros. Poe também escrevia histórias de terror e suspense, com muita gente morrendo e crueldades. Por incrível que pareça, apesar de ele ser estadunidense, a maior parte da sua fama se deu após o reconhecimento dos europeus - Baudelaire, poeta simbolista francês, foi um grande divulgador de sua obra, e, em parte, responsável pela fama de alcoólatra e desajustado do Poe. Vocês podem ler mais da biografia dele na internet, né?  
Voltando ao Opera Magna. Todas as músicas são em espanhol (com alguns refrões em latim - SIIIIM *~*). Tem gente que não curte metal em qualquer língua que não seja o inglês - e eu solenemente os desprezo - mas, se essas pessoas ouvirem o EP  Un Sueño En Un Sueño, que traz uma versão em inglês da faixa título, entenderão o porquê de eles cantarem em espanhol. Taê, pras almas incrédulas.

  Sim, isso é inglês, embora não pareça.
Mas falávamos do Full-Length Poe. Ele começa com um intro El Cuervo, que falam - adivinhem! - de O Corvo, o poema mais famoso do Poe. Esse poema foi traduzido em português por diversos caras fodas, entre os quais posso citar Fernando Pessoa e Machado de Assis. Leiam o poema aqui. O poema é belíssimo - e olha que eu não gosto de poesia, e ouvi-lo é mais interessante que lê-lo, principalmente se ele for narrado por um declamador competente. Tentem esse.

As músicas seguintes foram inspiradas em contos escritos pelo Poe.  Não me lembro de todos pelo título - ainda mais o título em espanhol, e pode ser que muitos eu não tenha lido, mas vou falar de alguns. 
La Máscara De La Muerte Roja fala sobre um príncipe cujo reino foi assolado por uma doença misteriosa, chamada de Morte Rubra e, em vez de cuidar do povo, reuniu todos os seus amiguinhos saudáveis e ficou com eles trancados num palácio onde viveram por muito tempo fazendo festas e eventos suntuosíssimos.
El Demonio de La Perversidad : o Demônio da Perversidade é aquela vontade desgraçada de fazer alguma coisa justamente porque tu sabe que tá errado. Por exemplo, tu tem um trabalho pra fazer, e liga o computador e tu faz tudo, menos o trabalho. E, enquanto está no facebook, fica se martirizando porque deveria estar fazendo o bendito trabalho.
El Retrato Oval conta a história de uma moça que, casada com um pintor de quadros, teve a alma aprisionada em um retrato que ele pintou dela.
 
A última música se chama Edgar Allan Poe e fala - adivinhem! - sobre o escritor. Não conta a vida dele, exatamente, mas uma espécie de angústia que eu - e o pessoal da banda - imagino que ele deva ter sentido muitas vezes. É, disparado, a melhor do álbum. 
 
Aqui temos a contracapa do álbum, pra vocês verem a belíssima arte, e também para conhecer a relação de músicas:
 
Pra finalizar, um filme excelente que eu vi no cinema ano passado, também sobre ele. Não sei se tá bom o filme, mas, em todo o caso, vocês pegam na locadora, baixam por torrent, se viram. Né?

 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Otelo

Gostei dessa imagem, parece a foto que sempre botam do Shakespeare haha


Já faz um tempinho que eu li o Otelo, do Shakespeare (o criador do humano, segundo o guru da classe média sofre, Harold Bloom). Quando o professor de brasileira dois passou Dom Casmurro pra gente, há sei lá, um ano, eu perguntei pra ele se era bom ler o Otelo antes, depois ou junto. (Todo o mundo sabe que o Machado se inspirou em Otelo pra escrever o Dom Casmurro). Sabem o que ele me respondeu? "Otelo é bom ler sempre, com ou sem Casmurro".

Eu não li naquela época, não deu tempo, e fui ler esse semestre, por minha conta e risco. A propósito: essas minhas impressões vão ter spoilers, se não tiver afim de ver spoilers acho bom ler outra coisa haha.

Começando. O nome todo da obra é "Otelo, o mouro de Veneza" (Veneza é aquela cidade da Itália que tem os canais entre as casas e passam aqueles barquinhos supercharmosos). Acontece, meus caros, que o Otelo não é mouro. (Trilha sonora de suspense). Ele é negro! Segundo o editor/tradutor/revisor, para Shakespeare, mouro, negro e pagão (acho que a palavra era essa, eu já devolvi o livro há eras) são a mesma coisa. Antes que vocês xinguem o Shakespeare, leiam a minha "resenha" até o fim.

O Iago, que é o vilão, é um sujeito simplesmente sem escrúpulos que, hoje, seria um leitor assíduo da Veja. Enfim. O Otelo, que é general (um sujeito absolutamente foda, porque, com o clima racista que paira entre as pessoas no livro, conseguiu virar general de uma cidade exclusivamente de brancos né. Além de que ele é super respeitado), em vez de promover o Iago, promoveu um rapaz que é matemático, eu acho. O Iago ficou pê da vida e resolveu sacanear o Otelo.

Desdêmona é uma guria bem ao clássico mocinha de romance romântico: loirinha, obediente, meiga, bonitinha, etc, etc, etc. Ela acaba se apaixonando pelo Otelo porque ele ficava contando as histórias das aventuras que ele viveu, da vida sofrida que ele teve. Casou com ele contra a vontade do pai e todo o mundo fica falando que isso não vai durar, porque ela casou com o Otelo por peninha e, como ele é uma criatura medonha e repulsiva (como eles dizem), ela logo vai se arrepender e largar ele. E é aí que o Iago resolve atacar. Ele arma todo um plano (mais enrolado que a saga do Angra tentando descolar um vocalista novo e 879899878976567890 de vezes mais engenhoso que qualquer plano de vilã de novela da Globo pra separar o mocinho da mocinha) de modo que ele ainda passe por bonzinho! (enfim, um cara foda)

Ele usa o matemático promovido pra parecer que a Desdêmona tá traindo o Otelo com ele e mais um manolo que é gamadão na Desdêmona (e ela, aparentemente, nem sabe que esse cara existe).

Enfim. Agora que vocês conhecem a história, eu vou dizer porque eu discordo da opinião do revisor/editor do livro. As palavras negro e mouro são, realmente, usadas como sinônimos no livro. Mas o comportamento do Otelo desmente o que todas as pessoas dizem sobre ele (exceto uma fala do Iago, que diz que ele é crédulo, mas o próprio Iago, que é um poço de racismo e de machismo, não relaciona essa credulidade com a cor do Otelo). Ele é gentil, inteligente, competente e etc. Ele só trata mal a Desdêmona quando "descobre" que ela tá traindo ele (chega a bater nela) mas esse comportamento, pelo que o resto dos personagens dizem, é um comportamento normal de um sujeito chifrado (Shakespeare viveu nos séculos XVI-XVII).

O Iago também faz uma série de afirmações bem machistas, mas as mulheres do livro desmentem isso e ele, como eu já disse, é um sujeito desprezível.

Enfim. Acho que dá pra sustentar que Shakespeare não concordava com essas opiniões sobre os negros e as mulheres, embora, para isso, tenha que se fazer uma análise cuidadosa da obra (é uma peça teatral, portanto não tem narrador) e das demais peças dele.

Outro meu pensamento foi que o Shakespeare pudesse estar pautado pelo mito do "bom selvagem", que Russeau defendia e que pode ser visto em romances tipo o Guarani e Iracema, do Alencar. Não sei se é esse o caso, mas eles achavam que os povos "não civilizados" ou seja, não-europeus, eram todos bonzinhos e não corrompidos. Um pensamento romântico e idealizado, enfim. 

Pra finalizar, eu lembro que essa peça é uma tragédia e, portanto, morre todo o mundo no final.

Ah, e, antes que eu me esqueça: a melhor personagem do livro é a Bianca, mulher do Iago e dama de companhia da Desdêmona. Pra vocês terem uma noção, no meio do livro ela pergunta pra Desdêmona: "tu botaria chifre no teu marido?" Aí a Desdêmona: "Não! Nunca! Tu botaria?" Bianca "Eu sim! Não por umas joias ou uns vestidos, mas, pelo mundo inteiro, eu botaria!". Hahahaha. Depois "se eles querem que a gente seja fiel, que tratem a gente bem!". Assim como a Desdêmona, ela é um estereótipo feminino, mas eu acho esse estereótipo superdivertido haha

Outra coisa: Shakespeare não inventou essa história. Ela já existia, é de um dramaturgo italiano, não lembro quem. Shakespeare, obviamente, mudou muito e transformou numa das maiores obras da literatura ocidental (depois de Hamlet e da Odisséia haha).

Leiam, velho, é muito legal. Eu li em duas vezes que peguei o livro (é fininho e foda).



Reparem no brinco haha



sábado, 18 de maio de 2013

Infâncias #3 ou Um menino no Ônibus



P.s.: Esse post eu escrevi há uma carinha, mas vou postá-lo exatamente como escrevi, beleza?

Infâncias #3 Um menino no Ônibus


Essa semana eu fui pro centro: peguei um ônibus, botei o fone, liguei a música (era Ascending to Infinity, do Luca Turilli’s Rhapsody, se alguém quer saber) e fiquei de boa olhando em volta e esperando o tal busão sair (era o Volta ao Morro Pantanal Norte – horários aqui).

Como a plataforma estava relativamente bem movimentada e não tinha outro ônibus que fizesse o mesmo trajeto, ele encheu rápido e aí aconteceu o que vou-lhes narrar. Só tinha um lugar em cada banco – o do corredor, que é o último em que o povo senta – e entrou uma mulher com um guri de, sei lá, uns seis anos. Ela mandou o piá sentar sozinho num banco, do lado de uma moça desconhecida e sentou em outro, do lado de outro desconhecido. 

E daí, vocês me perguntam. E eu respondo: a felicidade dele. Ele olhou pra mãe tão radiante, pensando “olha, eu já sou um homem, posso sentar longe da minha mãe no busão”. Ela estava a menos de meio metro de distância, mas isso não tem a menor importância. Ali nasceu um homenzinho.
Eu não vi mais o guri, e talvez ele nem se lembre mais do seu pequeno grande passo na estrada da vida. Mas talvez isso seja uma lição pra mim. Se a mãe tivesse pegado ele no colo, ele não teria sorrido. 

E aqui tá o som:


P.s: Acho que vou parar com esses posts que ninguém gosta.

terça-feira, 14 de maio de 2013

TCC

Oi, galerinha do mal! Sentiram a minha falta? Claro que não, né?

Bem. Como vocês (não) sabem, eu ando envolvida com a redação do meu TCC - pra quem não sabe o que é, é o chefão final da faculdade, isso mesmo, aquele manolo nego velho que o cara tem que vencer pra zerar o jogo e que tem umas vinte barrinhas de energia. Em outras palavras, é um trabalho que deve ser apresentado pra concluir a bendita.

Bem. Eu tenho andado envolvida com a batalha contra o chefão final. Pra vocês terem uma noção da coisa, eu fiquei tão estressada com isso que fiquei umas boas semanas  sem conseguir nem pintar a unha (ou foram anos? Devem ter sido anos, meu Deus). Eu até tentei, vou dizer a verdade, tentei. Mas só a ideia de ficar com as mãos pra cima, paradas, esperando o esmalte secar, me fizeram tirar tudo e deixar ao natural mesmo.

Essa semana que eu consegui botar uma cor nelas. Um rosa simples, camada dupla, sem desenho, sem nada. O Cinturinha, da coleção Anos Dourados, da Impala. Ei-lo:

A mãozinha de unhas verdes com bolinhas é a da minha mana, Andy,  dona do blog Sábado Chuvoso, de onde roubei essa foto <3


Não é grandes coisas mas foi uma vitória pra mim. Me sinto uma daquelas pessoas que se recuperaram de uma doença grave achando graça em coisas insignificantes, tipo esmalte de unha ou cachorros (mentira, cachorros não são insignificantes). A diferença é que eu ainda não estou curada.

Eu enviei a versão final pro professor. Aí me conscientizei de que tinha acabado, foi tipo uma reação natural a uma ameaça dessas. E, quando ele me respondeu pedindo pra eu fazer um monte de alterações, eu fiquei um bom tempo pra me conscientizar de novo que precisava continuar lutando, porque o chefão não tinha morrido ainda.

Enfim. Estou com um chefão pra derrotar e, ainda por cima, não posso estragar as unhas.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Infâncias #2 ou A menina que (não) amava cemitérios

Achei essa imagem na internet.

Continuando o post sobre crianças (leia o #1 aqui), teve o dia em que eu fui pra Nova Trento, no Santuário da Madre Paulina, um lugar visitado majoritariamente por idosos, todos fascinados pelas novas tecnologias que permitem tirar foto sem comprar filme (vejam que avançado).

Bom, a Andy e eu estávamos sentadas num dos banquinhos do lugar, sob uma árvore, quando passou por nós uma família grande com uma menininha (e só quem já foi criança sabe o quanto é chato ser a única criança  no meio de um monte de adultos, ainda mais em um lugar que não foi feito para receber pequenos romeiros).

Então, eles estavam passando pela gente, quando a menina disse:

-Vocês não vão tirar foto do cemitério?

(Tem um cemitério lá, perto da igreja velha e tota pulchra)

Os pais, avós e tios presentes começaram a rir, tipo, own que fofo, ela nem sabe o que tá falando.

Eu e a Andy nos olhamos "loool, essa minazinha tem futuro" Ps: A Andy adora fotos de anjos de cemitério e túmulos, vai entender

E o comboio de adultos rindo. E ela largou:

-Eu sei que não pode tirar, tá?

Bom. Não que ela tivesse vocação pra gótica, mas porque tinha percebido que os adultos, nascidos no século passado, o longícuo século XX (imaginem como aparece 1980 na mente de uma criança de menos de cinco anos), estavam fascinados pela possibilidade de tirar quantas fotos quisessem (e totalmente de graça!) estavam simplesmente aproveitando pra fotografar TU-DO  (inclusive o cemitério, como bem observou ela, com ironia e genialidade próprias de  uma criança de cinco anos).

Enfim, uma criança de futuro.

E, agora, as minhas fotos (tão olhando o quê, eu também nasci no século passado u.u):
Natureza de Nova Trento

Tem pavões lá

Essa foto ficou bonita



sábado, 23 de fevereiro de 2013

Sacrifício

Esse conto eu escrevi para um trabalho de Literatura Latina II e, como eu gostei muito, trago pra vocês:


Liber II
II VII
O saepe mecum tempus in ultimum

deducte Bruto militiae duce,

    quis te redonauit Quiritem

          dis patriis Italoque caelo,



Pompei, meorum prime sodalium?

cum quo morantem saepe diem mero

    fregi coronatus nitentis

          malobathro Syrio capillos.



Tecum Philippos et celerem fugam

sensi relicta non bene parmula,

    cum fracta uirtus, et minaces

          turpe solum tetigere mento.



sed me per hostis Mercurius celer

denso pauentem sustulit aere;

    te rursos in bellum resorbens

          unda fretis tulit aestuosis.



ergo obligatam redde Ioui dapem

longaque fessum militia latus

    depone sub lauru mea, nec

          parce cadis tibi destinatis.





obliuioso leuia Massico

ciboria exple; funde capacibus

unguenta de conchis. Quis udo

    deproperare apio coronas





curatue myrto? quem Venus arbitrum

dicet bibendi? non ego sanius

    bacchabor Edonis: recepto

          dulce mihi furere est amico.
Livro 2
II 7


Finalmente de volta, meu amigo:

Ó Pompeu,

        o primeiro dos meus companheiros,

        arrastado tantas vezes comigo ao perigo extremo,

        sob o comando de Bruto,

        com quem muitas vezes passei parte de longos dias

        com copo na mão

        e ornados de flores os cabelos perfumados de aromas da Síria.

        Quem foi que te restituiu

             à Roma,

             aos deuses pátrios,

             e ao céu da Itália?

Compartilhei contigo a derrota dos Filipos

e a rápida fuga dos nossos,

lançando para longe o escudo vergonhoso

quando o valor dos nossos estava quebrado

e quando os mais corajosos enterraram o queixo no solo ensangüentado...



Depois de longa separação, festejemos o reencontro:

       Mas o veloz Mercúrio

       me acompanhou a mim, louco de medo,

       por meio do inimigo através de uma nuvem de poeira

       enquanto nova onda te engoliu

       e te arrastou para novas guerras em mares tempestuosos!



Agora oferece a Júpiter o sacrifício prometido,

           reclina debaixo do meu loureiro o corpo cansado com as longas guerras,

           não poupes as ânforas para ti reservadas.

           Enche polidas taças de Mássico que tudo faz esquecer,

           derrama sobre ti perfumes abundantes de frascos-conchas.

           Quem nos há de tecer logo coroas frescas de aipo ou de murta?

           A quem nomeará Vênus rei do banquete?

           Quero festejar a Baco à moda dos trácios,

           gosto de estar fora de mim quando recupero um amigo.



-Vamos comemorar! – exclamou um soldado, erguendo o copo. Haviam, finalmente, conseguido vencer a guerra, e aquele vinho era mais do que merecido. 

Horácio viu os amigos beberem e rirem e gritarem, extasiados com a vitória. Não podia evitar sorrir. 

-Um grande vinho para um grande dia! – Pompeu deu uns tapas nas costas do poeta. - Vamos beber, porque estamos vivos, não é mesmo? 

Horácio estava feliz, não tinham tido muitas baixas – além do normal, claro – e seu grande amigo estava ali, um pouco alegre pela bebida já, mas vivo e bem. Apesar da grande alegria, um alarme se acendeu em seu espírito:

-Vocês estão bebendo desse vinho?!

Pompeu franziu a testa, estranhando:

-Ué, é um excelente vinho! A melhor safra desde a grande safra da quarta Olimpíada, que até hoje é celebrada pelos poetas!

-Por isso mesmo! – gritou Horácio, puxando o caneco da mão do guerreiro. – Nós não fizemos o sacrifício para agradecer aos deuses pela nossa vitória!

Alguns homens riram, outros se revoltaram:

-E desperdiçar o melhor vinho, o único alimento bom que tomamos em semanas?!

Horácio sentiu o desespero crescer em seu peito. Não podia deixar que fizessem isso. Não podia.

-Não sejais tolos, gritou. A maré de sorte que tivemos hoje veio dos deuses, e Eles podem nos tirar dela!

Mas ninguém o ouvia. Na verdade, ouviam sim. Mas estavam felizes e famintos demais para prestar a atenção a um homem que lhes exortava a parar de comemorar tudo que conseguiram. Pompeu pegou o caneco de volta, e bebeu até o fim.

O poeta desabou, caiu sentado e ficou olhando o chão, temendo o castigo que sabia que viria. Seu amigo sentou-se ao seu lado, lhe ofereceu um pedaço do carneiro que haviam assado.

-Poetas também se cansam quando lutam, disse.

-Os deuses... – murmurou Horácio. Não quis. Não podia comer ali, não podia beber do maravilhoso vinho. 
Não desagradaria a nenhum dos seus deuses.

Pompeu não lhe deu ouvidos, inebriado pela dança e pela festa. Por isso mesmo, não viu o grande amigo se retirar para fazer algumas preces, pedindo perdão pelos seus companheiros.

--x-x-x-x-

Horácio acordou com os primeiros raios de sol na gruta em que fizera as preces. Espreguiçou-se, e se descobriu faminto. Resolveu procurar os amigos para fazer o desjejum com eles, pois agora estava quite com suas obrigações divinas. Desceu com cuidado (a estrada era íngreme) até o local onde os deixara, descobrindo, aterrorizado, os restos do acampamento da noite anterior sob uma multidão de cadáveres entre os quais, decapitado, reconheceu o de Pompeu, coberto pelo escudo que herdara do pai.

O poeta não tentou não chorar. Ele havia... avisado... Deuses, deuses, por quê?! 

Abraçou o belíssimo escudo e abandonou o que havia sido um acampamento vitorioso. Levaria a herança para Roma, para que o filho de Pompeu pudesse ver o que o honrado pai conquistara e deixara escapar entre os dedos. 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Infâncias #1 ou O guri que descobriu cedo demais que o pai não é foda


Cenas de Itapema #1: anoitece


Outro dia eu fui pra Itapema (pra quem não conhece, é a praia mais gaúcha de SC – ah, vai o povo de Chapecó pra lá também) aí ficamos caminhando no calçadão e tals, bem de turista, e, quando paramos pra comer um milho verde, eu vi um piazinho de camiseta amarela com uma caveirinha fofa de pirata estampada brincando na areia (o piá tava brincando na areia, não a caveira e muito menos o pirata). Confuso? Tá, eu reescrevo.

Quando paramos pra comer milho, eu vi, brincando na areia, um piazinho com...

Não, péra. Quando paramos pra comer milho, eu vi um piazinho brincando na areia. Ele usava uma camiseta amarela com uma caveira de pirata. Ufa.

Melhorou.

E aí eu tava dizendo que o piá de camiseta amarela tava brincando de fazer castelinho de areia com um  cara que, eu acho, era o pai. Afinal, quem além do pai se disporia a perder tempo brincar com o guri (o meu não se dispunha – nunca superei isso).

Bom, a verdade é que, fazendo isso (ou não fazendo, uma vez que ele não brincava), meu pai me poupou de uma baita decepção, como veremos a seguir.

Tava lá o cara com a maior boa vontade do mundo, ajudando o filho a fazer um morro castelo de areia, quando...

Pausa aqui pra explicar um detalhe: eles tinham uma forminha de peixe (daquelas pra tu encher de areia, virar no chão e ficar um montinho de areia em forma de peixe). Lembram disso? 

O desditoso pai encheu aquele troço com areia molhada e queria virar em cima do monte, digo, castelo. Acontece que o cara bateu, bateu, socou, amassou o morro castelo e nada da areia sair. Isso que dá não untar a forma

Até aí, tudo bem, até porque isso é difícil mesmo, ainda mais com areia molhada. O problema – e o que me chamou a atenção – foi a decepção do guri. Ele ficou parado, empezinho, camiseta suja de areia, olhando o pai ser cruelmente massacrado por um peixe plástico!

E eu fiquei olhando a cena. Se havia um pai mais foda que o Superman, ele morreu naquele minuto. Como, pensava o guri, o meu pai, que luta contra monstros e aliens, pode ser derrotado por uma forminha plástica?

E assim o superpai desaparece para dar lugar a um ser derrotado que acabou por lavar a forma-peixe-assassina no mar.

Triste isso, não?

Ps.: depois, mais à noite, vimos golfinhos. (não, não deu pra fotografar eles, tavam muito longe)
Cenas de Itapema #2: Salva-vidas sem teto