Poucos contos e alguns trocados.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Otelo

Gostei dessa imagem, parece a foto que sempre botam do Shakespeare haha


Já faz um tempinho que eu li o Otelo, do Shakespeare (o criador do humano, segundo o guru da classe média sofre, Harold Bloom). Quando o professor de brasileira dois passou Dom Casmurro pra gente, há sei lá, um ano, eu perguntei pra ele se era bom ler o Otelo antes, depois ou junto. (Todo o mundo sabe que o Machado se inspirou em Otelo pra escrever o Dom Casmurro). Sabem o que ele me respondeu? "Otelo é bom ler sempre, com ou sem Casmurro".

Eu não li naquela época, não deu tempo, e fui ler esse semestre, por minha conta e risco. A propósito: essas minhas impressões vão ter spoilers, se não tiver afim de ver spoilers acho bom ler outra coisa haha.

Começando. O nome todo da obra é "Otelo, o mouro de Veneza" (Veneza é aquela cidade da Itália que tem os canais entre as casas e passam aqueles barquinhos supercharmosos). Acontece, meus caros, que o Otelo não é mouro. (Trilha sonora de suspense). Ele é negro! Segundo o editor/tradutor/revisor, para Shakespeare, mouro, negro e pagão (acho que a palavra era essa, eu já devolvi o livro há eras) são a mesma coisa. Antes que vocês xinguem o Shakespeare, leiam a minha "resenha" até o fim.

O Iago, que é o vilão, é um sujeito simplesmente sem escrúpulos que, hoje, seria um leitor assíduo da Veja. Enfim. O Otelo, que é general (um sujeito absolutamente foda, porque, com o clima racista que paira entre as pessoas no livro, conseguiu virar general de uma cidade exclusivamente de brancos né. Além de que ele é super respeitado), em vez de promover o Iago, promoveu um rapaz que é matemático, eu acho. O Iago ficou pê da vida e resolveu sacanear o Otelo.

Desdêmona é uma guria bem ao clássico mocinha de romance romântico: loirinha, obediente, meiga, bonitinha, etc, etc, etc. Ela acaba se apaixonando pelo Otelo porque ele ficava contando as histórias das aventuras que ele viveu, da vida sofrida que ele teve. Casou com ele contra a vontade do pai e todo o mundo fica falando que isso não vai durar, porque ela casou com o Otelo por peninha e, como ele é uma criatura medonha e repulsiva (como eles dizem), ela logo vai se arrepender e largar ele. E é aí que o Iago resolve atacar. Ele arma todo um plano (mais enrolado que a saga do Angra tentando descolar um vocalista novo e 879899878976567890 de vezes mais engenhoso que qualquer plano de vilã de novela da Globo pra separar o mocinho da mocinha) de modo que ele ainda passe por bonzinho! (enfim, um cara foda)

Ele usa o matemático promovido pra parecer que a Desdêmona tá traindo o Otelo com ele e mais um manolo que é gamadão na Desdêmona (e ela, aparentemente, nem sabe que esse cara existe).

Enfim. Agora que vocês conhecem a história, eu vou dizer porque eu discordo da opinião do revisor/editor do livro. As palavras negro e mouro são, realmente, usadas como sinônimos no livro. Mas o comportamento do Otelo desmente o que todas as pessoas dizem sobre ele (exceto uma fala do Iago, que diz que ele é crédulo, mas o próprio Iago, que é um poço de racismo e de machismo, não relaciona essa credulidade com a cor do Otelo). Ele é gentil, inteligente, competente e etc. Ele só trata mal a Desdêmona quando "descobre" que ela tá traindo ele (chega a bater nela) mas esse comportamento, pelo que o resto dos personagens dizem, é um comportamento normal de um sujeito chifrado (Shakespeare viveu nos séculos XVI-XVII).

O Iago também faz uma série de afirmações bem machistas, mas as mulheres do livro desmentem isso e ele, como eu já disse, é um sujeito desprezível.

Enfim. Acho que dá pra sustentar que Shakespeare não concordava com essas opiniões sobre os negros e as mulheres, embora, para isso, tenha que se fazer uma análise cuidadosa da obra (é uma peça teatral, portanto não tem narrador) e das demais peças dele.

Outro meu pensamento foi que o Shakespeare pudesse estar pautado pelo mito do "bom selvagem", que Russeau defendia e que pode ser visto em romances tipo o Guarani e Iracema, do Alencar. Não sei se é esse o caso, mas eles achavam que os povos "não civilizados" ou seja, não-europeus, eram todos bonzinhos e não corrompidos. Um pensamento romântico e idealizado, enfim. 

Pra finalizar, eu lembro que essa peça é uma tragédia e, portanto, morre todo o mundo no final.

Ah, e, antes que eu me esqueça: a melhor personagem do livro é a Bianca, mulher do Iago e dama de companhia da Desdêmona. Pra vocês terem uma noção, no meio do livro ela pergunta pra Desdêmona: "tu botaria chifre no teu marido?" Aí a Desdêmona: "Não! Nunca! Tu botaria?" Bianca "Eu sim! Não por umas joias ou uns vestidos, mas, pelo mundo inteiro, eu botaria!". Hahahaha. Depois "se eles querem que a gente seja fiel, que tratem a gente bem!". Assim como a Desdêmona, ela é um estereótipo feminino, mas eu acho esse estereótipo superdivertido haha

Outra coisa: Shakespeare não inventou essa história. Ela já existia, é de um dramaturgo italiano, não lembro quem. Shakespeare, obviamente, mudou muito e transformou numa das maiores obras da literatura ocidental (depois de Hamlet e da Odisséia haha).

Leiam, velho, é muito legal. Eu li em duas vezes que peguei o livro (é fininho e foda).



Reparem no brinco haha



sábado, 18 de maio de 2013

Infâncias #3 ou Um menino no Ônibus



P.s.: Esse post eu escrevi há uma carinha, mas vou postá-lo exatamente como escrevi, beleza?

Infâncias #3 Um menino no Ônibus


Essa semana eu fui pro centro: peguei um ônibus, botei o fone, liguei a música (era Ascending to Infinity, do Luca Turilli’s Rhapsody, se alguém quer saber) e fiquei de boa olhando em volta e esperando o tal busão sair (era o Volta ao Morro Pantanal Norte – horários aqui).

Como a plataforma estava relativamente bem movimentada e não tinha outro ônibus que fizesse o mesmo trajeto, ele encheu rápido e aí aconteceu o que vou-lhes narrar. Só tinha um lugar em cada banco – o do corredor, que é o último em que o povo senta – e entrou uma mulher com um guri de, sei lá, uns seis anos. Ela mandou o piá sentar sozinho num banco, do lado de uma moça desconhecida e sentou em outro, do lado de outro desconhecido. 

E daí, vocês me perguntam. E eu respondo: a felicidade dele. Ele olhou pra mãe tão radiante, pensando “olha, eu já sou um homem, posso sentar longe da minha mãe no busão”. Ela estava a menos de meio metro de distância, mas isso não tem a menor importância. Ali nasceu um homenzinho.
Eu não vi mais o guri, e talvez ele nem se lembre mais do seu pequeno grande passo na estrada da vida. Mas talvez isso seja uma lição pra mim. Se a mãe tivesse pegado ele no colo, ele não teria sorrido. 

E aqui tá o som:


P.s: Acho que vou parar com esses posts que ninguém gosta.

terça-feira, 14 de maio de 2013

TCC

Oi, galerinha do mal! Sentiram a minha falta? Claro que não, né?

Bem. Como vocês (não) sabem, eu ando envolvida com a redação do meu TCC - pra quem não sabe o que é, é o chefão final da faculdade, isso mesmo, aquele manolo nego velho que o cara tem que vencer pra zerar o jogo e que tem umas vinte barrinhas de energia. Em outras palavras, é um trabalho que deve ser apresentado pra concluir a bendita.

Bem. Eu tenho andado envolvida com a batalha contra o chefão final. Pra vocês terem uma noção da coisa, eu fiquei tão estressada com isso que fiquei umas boas semanas  sem conseguir nem pintar a unha (ou foram anos? Devem ter sido anos, meu Deus). Eu até tentei, vou dizer a verdade, tentei. Mas só a ideia de ficar com as mãos pra cima, paradas, esperando o esmalte secar, me fizeram tirar tudo e deixar ao natural mesmo.

Essa semana que eu consegui botar uma cor nelas. Um rosa simples, camada dupla, sem desenho, sem nada. O Cinturinha, da coleção Anos Dourados, da Impala. Ei-lo:

A mãozinha de unhas verdes com bolinhas é a da minha mana, Andy,  dona do blog Sábado Chuvoso, de onde roubei essa foto <3


Não é grandes coisas mas foi uma vitória pra mim. Me sinto uma daquelas pessoas que se recuperaram de uma doença grave achando graça em coisas insignificantes, tipo esmalte de unha ou cachorros (mentira, cachorros não são insignificantes). A diferença é que eu ainda não estou curada.

Eu enviei a versão final pro professor. Aí me conscientizei de que tinha acabado, foi tipo uma reação natural a uma ameaça dessas. E, quando ele me respondeu pedindo pra eu fazer um monte de alterações, eu fiquei um bom tempo pra me conscientizar de novo que precisava continuar lutando, porque o chefão não tinha morrido ainda.

Enfim. Estou com um chefão pra derrotar e, ainda por cima, não posso estragar as unhas.