Poucos contos e alguns trocados.

domingo, 27 de julho de 2014

Impressões sobre Harry Potter


Eu estive um tempo off-line por motivos de: li três livros de mais de 500 páginas cada em uma semana.

Dois desses livros foram Harry Potter e o Cálice de Fogo e A Ordem da Fênix.

O Cálice de Fogo é o quarto volume mas eu entendi a história porque já tinha assistido aos filmes até o Prisioneiro de Azkaban.

Vou resenhar os dois livros juntos para economizar post rs

A saga Harry Potter é um daqueles livros que seguem o formato tradicional de nerd que sofre bullying, que perdeu os pais e que, do nada, descobre que tem superpoderes e então se torna o foda. Com um pouquinho de esforço, podemos listar um punhado de obras que seguem esse padrão. Homem Aranha, Percy Jackson (que, no fim, é uma cópia descarada do HP), Como Treinar seu Dragão (o primeiro, ao segundo eu não assisti), Aviões (aquela continuação do Carros), etc. Quando a protagonista é feminina, o resultado são filmes ainda piores, como High School Musical, Camp Rock, quase todos os outros filmes juvenis da Disney, O Diário da Barbie e etc. A guria não ganha poderes, só alguma habilidade que a destaca do resto do colégio e a torna linda e desejada.

Atenção: essa resenha contém spoilers (eu conto o final do livro). Continue a ler por sua conta e risco.

O Cálice de Fogo começa como todos os livros do HP, com ele na casa dos tios trouxas sofrendo horrores, quando é salvo pela família do Rony que o convida para passar o resto das férias com ele, e ir ao estádio assistir a uma partida da Copa do Mundo de Quadribol. Ao final do jogo, alguém aproveita uma confusão armada para projetar a marca do Voldemort no céu.

Depois de tudo isso, começam as aulas em Hogwarts e é anunciado o Torceio Tribruxo, envolvendo três escolas de diferentes países, cada uma com um representante, denominado Campeão. E aí começa o que eu vou chamar de sem noção, na falta de expressão melhor.  Apesar de o torneio ser vedado a quem tivesse menos de dezessete anos, Harry (então com catorze) também é convocado (claro, né, ou alguém achou que ele ia ficar de fora?). Todos os adultos concordam que alguém inscreveu o piá para matá-lo mas absolutamente ninguém faz absolutamente nada para impedir!

No final do torneio, que o Harry obviamente ganha, descobre-se que a taça era a chave de um portal que levava a um cemitério, onde Voldemort faz um ritual para recuperar o seu corpo usando o sangue do HP. Ou seja, o guri havia sido inscrito no torneio porque o Voldemort queria que ele encostasse na taça e fosse levado ao cemitério, onde poderia servir aos propósitos malignos.  Só eu vejo uma incoerência aí? Porque o servo do Voldemort transformou a taça numa chave de portal? Porque não transformou qualquer outra coisa, como uma cueca ou uma meia do Harry, ou uma maçaneta de porta, ou enviou a chave via coruja pra ele? Teria sido muito mais simples e rápido, e o guri não correria o risco de morrer no torneio, o que prejudicaria os planos maléficos do  vilão, inviabilizando o ritual. Além, de claro, não dar mais ibope pro Harry.

E aí tem a "luta" contra o Voldemort ressuscitado. O HP tá ferido, amarrado a um túmulo, sem varinha, e o vilão solta ele, dá a varinha de volta e o desafia para um duelo, certo de que iria ganhar. (Por que não matar de uma vez?) E aí vem a maior forçação de barra do livro: as varinhas dos dois são irmãs e não querem lutar entre si (?!). "Elas não funcionam bem uma contra a outra. Se, no entanto, o dono de uma das varinhas forçar uma luta entre as varinhas... produzirá um efeito muito raro. 'Uma das varinhas forçará a outra a regurgitar os feitiços que realizou, na ordem inversa. O mais recente primeiro... depois os que o antecederam....'"  (p. 554) E isso não só permitiu que o HP escapasse do Voldemort e de um punhado de Comensais da Morte, como os feitiços regurgitados tomaram forma das pessoas que foram mortas, que foram apoiar o Harry! (é pouca noção pra muita gente).

Depois: o servo de Voldemort infiltrado na escola. Supondo que o Dumbledore, extremamente fodão, não tenha percebido que ele era um farsante, por que diabos o cara (que estava infiltrado como professor de Defesa Contra as Artes das Trevas ou algo que o valha), ensinou os alunos (HP incluso) a se defenderem (!!!) das maldições imperdoáveis, que são proibidas de serem lançadas contra seres humanos,  mas que os servidores de Você-Sabe-Quem usam o tempo todo? Se eu estivesse infiltrada como professora de um inimigo, eu ia dar a aula mais porca que eu conseguisse, e um monte de trabalhos desnecessários, além de provas impossíveis de responder.  Era possível que o sujeito tivesse tentando conquistar a confiança do Potter, mas dar-lhe uma arma contra o próprio senhor? É muita burrice. Eu apostaria  que a autora só resolveu que o sujeito fosse um farsante no final do livro.

E as três tarefas do torneio (que se arrasta penosamente pelo ano inteiro)! A primeira é enfrentar um dragão (tudo bem que o HP só foge dele, mas, porra, é um dragão), a segunda é salvar amigos dentro do lago (por que amigos? podia ser qualquer coisa, mas os organizadores do torneio preferiram arriscar a vida de pessoas que não tinham nada a ver com o assunto) e a terceira é encontrar a taça dentro de um labirinto cheio de perigos.


Basicamente, é isso que acontece no livro inteiro. Pra não dizer que eu li com a cara amarrada, já odiando tudo, vou listar algumas coisas de que gostei:

1. A crítica feita à imprensa, por meio da jornalista Rita Skeeter, que é uma sensacionalista que distorce os fatos

2. O empenho da Hermione em ajudar os elfos domésticos, que vivem em regime de escravidão e que as outras pessoas (incluindo os próprios elfos) acreditam piamente que os pobrezinhos gostem disso

3. Os estudantes estrangeiros não são maus

4. E a crítica à justiça vingativa, personalizada pelos Dementadores.

Em seguida, vem A Ordem da Fênix. Esse livro é bem mais desnecessário que o outro, pois não acontece quase nada nele. Basicamente, eles ficam o livro todo combatendo uma diretora tirana, que provocou o afastamento de Dumbledore e que persegue o HP, além de dar uma aula porca porque acha que o Dumbledore está treinando um exército para enfrentar o ministério e se tornar, ele próprio, ministro da magia (?!).

A diretora toma um punhado de medidas sem noção, como transformar o Malfoy e os amigos dele em uma Brigada Inquisitorial(?!), com a função de vigiar os outros alunos para ela, e beneficiá-lo abertamente (a questão é: por que ela beneficiaria alguém?). A medida mais sem noção é, decididamente, demitir a professora de adivinhação (cujo nome não sei escrever) porque esta professora dava uma aula péssima. Sim, criatura, se tu tem medo que seja formado um exército de bruxos mirins pra detonar o ministério, porque diabos demitir uma pessoa que está, mesmo que inconscientemente, impedindo isso? Ela também persegue o Hagrid, mas aí faz sentido, porque ele é mestiço e o ministério (e o Voldemort) odeiam mestiços.

A fuga dos irmãos mais velhos do Rony também é bem forçadinha.

Ao final que eles lutam com o Voldemort e aí vem a maior forçação de barra do livro. O Harry tem vários sonhos em que "entra na mente" do Lorde das Trevas graças à cicatriz (?!) que se tornou um elo entre eles (?!).  O Voldemort percebe e decide usar essa ligação a seu favor. Transmite um sonho falso pro HP, em que Sirius tinha sido preso e estava sendo torturado. O bruxinho, é claro, se apavora e, graças ao bom senso da Hermione, vai confirmar se isso é verdade mesmo, usando a lareira da diretora (acontece que o Harry tinha ganhado do padrinho, no Natal, um presente que permitia se comunicar com ele. Por que não o usou?). Confirmado o sequestro, ele e os amigos vão até o ministério resgatar Sirius.

Lá, no ministério vazio (por que o ministério estaria vazio, se eles estavam em aula?), acontecem lutas e perseguições (normal. Eu, inclusive, estava lendo o livro pra ver isso, só achei meio sei lá o Rony ser atacado por um cérebro com tentáculos) e o guri encontra uma bolinha de vidro com o próprio nome gravado. Essa bolinha é uma profecia, que apenas o dono poderia pegar, e que foi mandado pra lá por Você-Sabe-Quem com justamente essa intenção. Enfim. A bolinha quebra e ninguém consegue ouvir a profecia. E o Sirius (que foi lá pra salvar o afilhado) morre (de uma maneira bem, digamos, injustificada e estranha).

O fato é que, apesar da profecia perdida, o HP vem a conhecer a profecia, por meio do Dumbledore, que retorna à direção do colégio. A profecia diz que um moleque cujos pais lutaram pra vencer o Lorde das Trevas estava predestinado a matá-lo ou ser morto por ele. (Oi?) O vilão sabia disso e, então, resolveu matar o piá enquanto este era um bebê e se fudeu (como já sabemos). A questão é que haver uma profecia é mega sem noção. E toda essa zorra por causa de uma profecia de que, aliás, o Voldemort já conhecia a maior parte? Tudo isso pra justificar porque o HP é mega procurado? E justificar a existência desse livro, né?

Depois, tem uma bobagem maior ainda, segundo a qual a mãe do Harry, ao se sacrificar por ele, deixou uma proteção permanente (?!) que deveria ser periodicamente renovada ao contato com gente do sangue dela (leia-se tia Petúnia, a trouxa com mania de limpeza) e que, por isso, Dumbledore largou o guri para ser criado por ela.

Que mais...? Curto a defesa aos mestiços e aos povos semi-humanos que é feita e as descrições do livro, que permitem visualizar o que está acontecendo. E simplesmente, PRECISO de uma Penseira (bacia para depositar os pensamentos) para mim. Seria extremamente útil.

Acho que é isso, no geral. Eu esperava um livro mais divertido, embora já esperasse algumas forçações de barra, causadas pelo alongamento excessivo da história com fins de lucro.

Pra finalizar minha resenha, gostaria que os fãs não viessem aqui criticando a tradução brasileira, pois as críticas que fiz não têm nenhuma relação com aspectos linguísticos. E que vou ignorar solenemente os berros de "faz melhor".