Poucos contos e alguns trocados.

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Retrospectiva 2014

Se quiser  ler a retrospectiva 2013, clique aqui.

Livros que eu li:

O Homem que Calculava, de Malba Tahan
Dom Quixote, Cervantes
Trilogia A Hora das Bruxas, Anne Rice
Os Três Mosqueteiros, Alexandre Dumas Pai
Dois Harry Potter, J.K.Rowling

Essa lista não é exaustiva. Eu também peguei um livro de contos do Edgar Allan Poe, do qual li apenas alguns contos que eu ainda não conhecia. E fora que posso ter me esquecido de vários livros.

Eu também aprendi a fazer abrolhos (ou macramê) com a minha avó. É um trabalho delicioso <3
Meu primeiro trabalho, já concluído

Segundo trabalho, está pela metade
Essas duas fotos foram tiradas pela Andy.

Comecei a galgar os degraus do crochê, mas, nesse ponto, não evoluí muito.


E quais projetos para 2014 eu cumpri?


1. Terminar a licenciatura CONCLUÍDO!


Foi mega sofrido, suor, sangue, lágrimas e muito desespero, mas agora eu finalmente tenho minha autorização formal pra torturar criancinhas haha 




2. Aprender a dirigir ENCAMINHADO - terminei a auto escola, mas reprovei na prova prática do Detran. Em Janeiro refaço e -espero- consigo a carteira



Isso foi outra tortura, principalmente as aulas teóricas, que tivemos com um professor com vocação psicopata, que dizia coisas como "quando vocês ficarem tetraplégicos..." além de ser um grandessíssimo coxinha e não entender nada de química (a coitada da Andy que o diga). Ah, sim, ele também cometeu uma enorme coleção de erros, tanto de ortografia (embriaguês e tricículo foram os piores), quanto de concordância e chegou ao absurdo de dizer que cromo é uma palavra que veio do latim. 



3. Estudar para um concurso IH
 Meu pai até me trouxe umas vídeo aulas pra eu assistir e tal, mas eu ando com uma preguiça desgraçada de fazer concurso

4. Arranjar um emprego encaminhado
 Eu cheguei a comentar aqui que fui pra Concórdia trabalhar, certo? Até fiz carteira de trabalho e matrícula no estado, na ocasião. Dá pra dizer que sou professora ACT =D

5. Bordar,  IH
costurar CONSEGUI
e cozinhar mais  veja aqui"


Dessas três coisas, eu só fiz foi costurar, principalmente roupas de boneca:

As fotos acima foram tiradas por mim, com exceção da última (da Clawdeen) que foi a Andy.

E tem essa minha blusa, que eu fiz:

Ignorem as espinhas

 Tem mais três blusas, que até agora (dia 25/12) não estão prontas.

Aí dá pra ver que, de sete metas, eu cumpri duas e deixei duas pela metade. Isso dá quase metade das metas cumpridas. Comparando com uma galera que nem isso faz, saí no lucro.

Agora, as metas para 2015:

1. Conseguir a carteira de motorista
2. Continuar costurando, mas, dessa vez, roupas pra mim
3. Fazer o curso de costura (em que, aliás, já me matriculei)
4. Trabalhar
5. Viajar (fazer pelo menos uma viagem)
6. Pintar o cabelo
7. Fazer um curso de italiano (começar, pelo menos)

Bom, acho que é isso. E feliz ano novo, galera! Que possamos cumprir metade das nossas metas para 2015!


quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Feliz Natal!



Aê, chegou a data mais esperada do ano, aquela em que tu ganha presentes mesmo não tendo ficado mais velho o/


Como tradição, fizemos dois amigos secretos: um daqui de casa, outro da família. No da família eu ganhei uma agenda 2015 da minha tia e, no de casa (que também é da família, afinal), eu ganhei uma saia e uma sapatilha. Tirarei fotos com ambos, assim que tiver oportunidade.

Mããããs o assunto do post não será esse. Eu vou falar sobre o que realmente importa nessa vida: comida!

Comida doce, aliás
Essa semana (ontem, melhor dizendo) eu fiz uns bombons de morango e cereja que ficaram não só uma delícia, como lindos! (Até que enfim eu faço uma comida bonita)

Os pequenininhos são de cereja e os grandes, de morango


Essas fotos maravilhosas foram tiradas pela Andy.

E como eu fiz os bombons? Basicamente, eu cortei as frutas, coloquei nas forminhas (os de cereja foi numa fôrma de gelo redonda que eu tenho, e, pros de morango, eu comprei fôrma de trufa) e completei com chocolate derretido. Aí é só esperar endurecer (põe na geladeira) e embalar. Usei papel alumínio, papel celofane e fitilho.

Puro amor <3

Outras gordices que fiz esse ano (que eu me lembre, pelo menos) foram os brigadeiros com morango, que não foram fotografados por motivo de força maior (feiúra extrema).Basicamente, eu fiz um brigadeiro normal e enrolei os morangos nele. Fiz duas vezes. Na primeira, eu enrolei com o brigadeiro quente. Ficaram medonhos. Nem deu pra enrolar.

Na segunda, porém, eu deixei o brigadeiro endurecer e enrolei. Logo que ficaram prontos, pareciam até brigadeiro de verdade (bonitinhos até), mas depois... o morango começou a soltar calda e eles desmancharam e viraram uma massa informe de chocolate, granulado, morango e forminhas de papel. Na próxima vez, vou fazer uma espécie de doce, sem enrolar.

Depois, teve a delícia de abacaxi. Receita aqui. Ficou bom pra caramba, mas a minha família não aprovou porque achou muito doce (novidade).

Eu ia rechear um panetone, mas os dois que ganhamos simplesmente sumiram (hehe).

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sábado, 20 de dezembro de 2014

Susi Primaveril

Daqui a pouco vocês vão estar saturados de Susis, mas tive que postar essa:

E a minha inspiração? Bem, fiz porque as cores combinavam... E é um modelo facílimo de fazer haha

E o coque no cabelo? Ficou dez, né? achei um tutorial na internet e reproduzi. O meu único problema com ele foi que, no tutorial, ensina a colocar alfinetes pra prender o coque. E eu ia dar a boneca pra crianças, portanto, sem alfinetes.

Copiem aqui:

http://lindossonhosdourados.blogspot.com.br/2011/05/tutorial-como-fazer-coque-em-barbies.html

Como eu resolvi o problema? Fui tomar banho (eu resolvo todos os meus problemas no banho) e caiu a ficha: costura o cabelo! Prendi com agulha e linha, como se estivesse costurando mesmo. E pronto! (usei linha branca)

Dia 17 (ontem), fui entregar os brinquedos, junto com a minha vizinha. As famílias receberam cestas básicas, um panetone, um pacotinho de bala e um brinquedo. As crianças presentes ganhavam um presente cada.

Juro que não sirvo pra isso! Morri de pena da maioria das pessoas. Sabe aquela história? "Conheço uma criança que perdeu a mãe... Podes dar um presentinho a mais pra ela?" ;  "Eu moro longe e não posso carregar peso" (essa queria carona); "tenho três netos... dois vão ficar sem"; etc, etc. Mas eu, infelizmente, não posso carregar ninguém no colo.

Algumas pessoas recebiam os brinquedos, iam dar uma volta e voltavam fingindo que não tinham ganhado. Isso foi chato, porque eu tenho uma péssima memória pra rostos e não me lembrava pra quem eu já tinha dado. Acabava perguntando: "tu já não ganhou?"

Enfim. Foi divertido, e estou esperando ansiosa para o dia da revelação do amigo secreto da família. Postarei mais sobre ele aqui, assim que revelarmos.

Mais fotos da Susi, antes que eu me esqueça:



Ficou lindo <3

sábado, 13 de dezembro de 2014

20's Susi


Outra das bonecas que recebi para vestir foi uma (na verdade, recebi várias) Susi. Algumas estavam com os cabelinhos bem maltratados, outras nem tanto. Um dos cabelos mais legais é essa que vou mostrar pra vocês hoje.

Primeiro, pra não perder o costume, mostro como as recebi:


A Susi deste post é a da extrema-esquerda, a de sapatinho verde e trancinha no cabelo. A seguir, mais uns ângulos dela:


Ainda à esquerda.
Essa boneca recebeu um vestido à década de 20, embora ela tenha um longo cabelo, que não era moda na época.  Pus esse vestidinho nela porque ele é laranja, e combinou total com o batom dela, que também é laranja.




Esse cabelo ficou uma fofura <3

O batom não é tudo a ver com a cor do vestido?

Sou péssima em tirar fotos de corpo inteiro, mas aqui está. Reparem que o sapato também é laranja
As pérolas não são muito da época, mas eu coloquei elas porque acabei errando no tamanho do vestido (e das mangas), que ficou muito grande. Então, franzi e pus as pérolas. Achei tão lindo que pretendo replicar a técnica pra outras roupinhas, só que propositalmente agora.

Essa foi uma das que eu mais gostei <3

domingo, 7 de dezembro de 2014

Marilyn Monroe inspired Doll


Não sei se eu cheguei a falar aqui (aliás, é altamente provável que não), eu recebi umas bonecas para botar roupinhas para doar (eu ainda não comecei a ganhar dinheiro com meus dons). Uma delas era uma Barbie antiga. Tirei algumas fotos dela antes da transformação:

Esse vestido foi sumariamente executado

De corpo, é daquelas bonecas cujo tórax tem a circunferência das árvores centenárias e a cintura é uma vareta

O cabelo tava ó, uma maravilha

Os sapatinhos eu mantive (um dos pés está comido - não tem a ponta - mas esse sapato esconde bem)



 Para ela, eu resolvi fazer roupas da Marilyn Monroe, do filme Gentlemen Prefer Blondies. Eu já havia feito uma versão do vestido, logo que eu comecei a costurar, e postei aqui. Como talvez vocês não se lembrem, vou dar uma refrescada da memória:


Ainda consigo me lembrar do trabalhão que deu fazer essa parada.

E aqui estão as fotos do resultado do meu trabalho:

Os sapatinhos, firmes e fortes


De corpo inteiro


Sorria! C:

Como eu já disse, peito enorme e cintura finíssima

Penteado feito pela Andy. Os brincos são os mesmos e o colar fui eu que fiz



segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Impressões sobre "O Homem que Calculava", de Malba Tahan


Eu não tinha As Mil e Uma Noites pra fotografar junto "/


Eu já havia começado a ler esse livro há muito tempo (pensem em bastantes anos) mas não consegui terminar. Agora, e só agora, eu tomei vergonha na cara pra continuar a leitura.

Peguei o livro na biblioteca (isso mesmo, eu praticamente não compro livros, vou até a biblioteca e pego emprestado, por motivos de: não tenho uma biblioteca imensa e sou pobre) e o devorei rapidamente (pensem em algumas horas).

Malba Tahan é, na verdade, pseudônimo de um professor de matemática brasileiro, Júlio César de Mello e Souza, grande estudioso da cultura árabe, que inclusive prefacia uma edição de As Mil e Uma Noites. Não será surpreendente, então, se eu disser que é um livro sobre um manolo que era nego velho em fazer cálculos (e não só isso, mas em tudo relacionado à matemática) e que os personagens são todos árabes (e muçulmanos).

A despeito de eu ser formada em letras, gosto muito de matemática e quaisquer coisas relacionadas ao raciocínio lógico (minha parte preferida do curso foi a linguística, a parte mais exata que se pode encontrar num curso desse tipo). Amo também o desafio (aqueles problemas que lembram quebra-cabeças,  em que tu descobre uma coisa, que usa pra descobrir outra, e assim por diante, até a solução final). Sim, eu adorava física no Ensino Médio. Sim, é desnecessário dizer que não continuei a estudar esse ramo das ciências. Exatamente, eu nunca estudei cálculo. 

 E o que eu achei do livro?

Dá pra resumir o livro em uma pequena fórmula:

Assassinatos na Rua Morgue + As Mil e Uma Noites + didática = O Homem que Calculava

(Prevejo gente gritando: eu sou de humanas, eu sou de humanas!)

E aí alguém vai dizer: meu, o livro é tão bom assim? Bem, a verdade é que não é nenhuma obra absurdamente genial (o que daria a entender com o Assassinatos e as Mil e Uma Noites), mas lembra bem ambos os livros.

E por quê?

Assim como Auguste Dupin, o detetive de Assassinatos na Rua Morgue,  Beremiz Samir, o calculista, é um gênio total. Pra vocês terem noção, o sujeito é capaz de contar as pernas e as orelhas de 257 camelos! e, ainda por cima, perceber que um dos camelos não tinha uma orelha! (na verdade, isso não é bem genialidade e sim uma capacidade absurda de observação). A genialidade se expressa em outras situações, quando, por exemplo, ele resolve enigmas propostos por 7 sábios de diferentes nacionalidades. Ou divide 35 camelos para três homens.

"(...) ele errava continuamente pela própria intensidade de suas investigações. Prejudicava sua visão por segurar os objetos perto demais. (...) A verdade não se encontra necessariamente no fundo de um poço." (Assassinatos na Rua Morgue, p. 114)

 Assim como Dupin, que exalta a simplicidade como a melhor e a única forma de resolver boa parte dos enigmas, faz Beremiz seguindo essa ideia, resolvendo os problemas sem complicações. Um ótimo exemplo é o do sujeito que emprestou dinheiro e fez uma conta errada (porque ficou inventando moda) aí achou que tinha recebido mais do que o combinado. Quando forem ler o livro, está no capítulo 7. (Esse eu achei que ia saber resolver, caso me propusessem.)

Além disso, o calculista tem umas manias estranhas como, por exemplo, de, mesmo sabendo que estava correndo risco de vida, continuar fazendo seus cálculos e foda-se: "A Matemática, ó Bagdali - respondeu tranquilo -, prende-nos tanto a atenção que, às vezes, alheamo-nos de todos os perigos que nos rodeiam." (p. 168)

 Quem conhece o Sherlock Holmes, outro cara genial em resolver enigmas, sabe bem como ele é, principalmente no filme. No livro, ele me pareceu simplesmente um cara muito arrogante (tá, muito arrogante é pouco, ele lembra uma espécie de deus da arrogância). O Dupin, do Poe, disparado, é o mais bizarro de todos:

 "Assim que os primeiros sinais da Aurora surgiam, fechávamos os postigos maciços do edifício e acendíamos alguns círios (...). Sob essa fraca luminosidade, ocupávamos nossas almas em sonhos (...) até que o relógio nos advertia da chegada da verdadeira Escuridão. Era então que saíamos às ruas, lado a lado (...)" (Assassinatos na rua Morgue, p. 94).

Nota meio nada a ver: alguém já viu um livro/filme sobre alguém absurdamente inteligente que tenha um comportamento socialmente aceitável? Lembrem-se de The Big Bang Theory e do Dom Quixote - que ainda vou resenhar aqui.

Outra semelhança com os dois famosos detetives é que a narração é feita em primeira pessoa, por um amigo do personagem principal (esse sim, o gênio). O Sherlock tem Watson. Beremiz tem o "Bagdali", que se identifica assinando na dedicatória: "Ali Iezid Izz-Edim Ibn Salim Hank Malba Tahan", ou seja, o mesmo cara identificado como o autor do livro! (Achei isso o máximo)

Outra nota: o livro traz os significados de algumas palavras que precedem o nome do Malba Tahan. Ibn Salim Hank significa "bisneto de Salim Hank";

O narrador do Assassinos na Rua Morgue não tem nome, embora seja, também, um grande amigo de Dupin, e inclusive participa de suas bizarrices, ao contrário do Watson, que vive chamando a atenção do Holmes para que este se comporte de uma maneira normal.

Não podia deixar de anotar: vai que o Poe seguiu a mesma lógica do Malba Tahan, e o narrador é um pseudônimo dele mesmo?

E As Mil e Uma Noites?

Além da história se passar em Bagdá, há muitos episódios narrando costumes muçulmanos (inclusive a história começa com "Em nome de Alá, Clemente e Misericordioso!"). Acho isso muito legal, principalmente porque o autor é estudioso da cultura árabe, e não árabe, então ele descreve costumes que um árabe não descreveria, acho, porque não têm ligação com a história.

Explico: imagine um livro escrito por um católico (um livro qualquer). Imagine que essa pessoa vá à missa toda semana, e ache que todo católico obrigatoriamente deva ir à missa todo domingo. No livro escrito por ele, não vai aparecer que o personagem tal foi à missa se não tiver acontecido nada relacionado à história do livro na descrita missa. Em "nada relacionado" quero dizer coisas como: reencontrar uma antiga namorada, cujo fim de romance se deu de forma traumática; cair um meteoro na igreja; interceptar uma horda de bárbaros de tanga gritando fora Dilma; o padre ser abduzido; uma velha beata ser possuída por espíritos que habitaram aquele lugar anteriormente, que nunca se desprenderam dali e agora vêm sedentos de vingança, etc, etc.

Inclusive, uma das preces que um dos personagens profere é o início do Alcorão. Procurem na página 91, capítulo 12.

Os personagens, assim como no As Mil e Uma Noites, são identificados pela religião: um cristão, um judeu, três muçulmanos. Então, um exemplo que mencionei acima "dividiu 35 camelos por 3 homens" no livro aparece "dividiu 35 camelos por três muçulmanos".

A Didática do livro

Só pra começar (pelo fim), há um apêndice em que se explicam as resoluções dos problemas  feitas pelo Calculista. Nesse mesmo apêndice encontramos biografias resumidas dos matemáticos mencionados na história, significados de algumas palavras árabes ou persas que aparecem no livro, bibliografia para consulta e muitas outras coisas.  Muito útil e instrutivo.

Se bem que bibliografia, nesses tempos de internet, perdeu boa parte da utilidade.

A maioria dos problemas, no entanto, eu entendi suficientemente bem no enredo mesmo, e as explicações do apêndice não acrescentaram quase nada mas eu li mesmo assim.

E eu simplesmente amei as histórias que ele conta (lendas, episódios, anedotas) relacionadas à matemática. Destaco:

  • o significado do número 7 - p. 54, capítulo 8
  • a história do jogo de xadrez - capítulo 16
  • a morte de Arquimedes - capítulo 24
Histórias dentro da história, como faz Sherazade.

E as mulé?

Tem um capítulo em que Beremiz recebe uma aluna (sim, uma moça) que precisava aprender matemática pra vida dela não ser uma desgraça total (pra uma galera, aprender matemática que ia ser a desgraça rs). O pai dela tava apavorado porque já consultara um punhado de professores e só tinha ouvido cagação de regra, que mulher não tem condições de aprender matemática, escambau. O Calculista aceita dar aulas para a moça, e cita Hipátia, a grande matemática de Alexandria. A menina, chamada Telassim (talismã), recebe as aulas separada do professor por uma espécie de lençol e vigiada por duas escravas.

(spoilers, passe o mouse pra ler - acho que dá pra entender melhor se já conhecer o livro) A moça aprende superbem a matemática, mas sua participação na história se resume a se apaixonar pelo Beremiz, casar com ele e ter três filhos. As outras mulheres são, majoritariamente, escravas (literalmente). Achei meio pobre (meio?)  pra um sujeito que diz "Erram duplamente os filósofos quando julgam medir com unidades negativas a capacidade intelectual da mulher" etc etc. (O pior disso tudo é que tem gente que ainda pensa como esses filósofos) E, antes que alguém venha aqui dizer "mas ele falou..." Um parágrafo só num livro de 241 páginas que mostra o contrário e o cara acha que tá fazendo um favor? Me poupe!

 No lugar dele, eu mudaria o final. O Califa oferece um presente pro Beremiz e ele pede pra casar com a Telassim. O Pai dela concorda, mas o Califa diz que só vai conceder o presente se o calculista acertar uma última pergunta. 

Aí a Telassim, que estaria na plateia, disfarçada de homem (para ver o show do amado), levantaria a mão e diria "um grande sábio também precisa ser um grande professor. Eu fui discípulo desse cara e me ofereço pra responder a pergunta no lugar dele. Se eu acertar, vai estar provado que ele, além de tudo, é um puta professor." O Califa aceitava e ela acertava a pergunta. Aí ela vai ter sambado na cara dos recalcados que não quiseram ensinar matemática pra ela, e o Beremiz também, porque ia provar pra esses manolos que eles não conseguiam ensinar gurias porque eram péssimos professores. 

E o final?

Querem saber o final?

 Queremos saber o que tu achou do final!

Ah, sim, claro, o final. Achei péssimo. E, claro, esse tópico vai ter spoilers.

Como eu disse, o livro inteiro é pautado na religião muçulmana, relatando preces, costumes, inclusive pedindo pra Alá ter piedade dos matemáticos infiéis (não muçulmanos). Mas Talessim é cristã, e Beremiz acaba se convertendo também e "fez questão de ser batizado por um bispo que soubesse a Geometria de Euclides" (p. 240). Os parágrafos finais são os seguintes:

A verdadeira felicidade - segundo afirma Beremiz - só pode existir à sombra da religião cristã.
Louvado seja Deus! Cheios estão os Céus e a Terra da majestade de sua obra! (p. 241)

Agora eu lhes pergunto, esse final não leva o livro todo pra esse lado? O sujeito escreve um livro mostrando a cultura árabe e termina dizendo que a cristã é melhor?  (A frase final é um dos salmos de Davi - que era judeu)

Já não achei muito legais outras duas passagens que denunciam que o autor era cristão, como a Telassim cantando a Carta de São Paulo aos Coríntios e uma discussão acalorada que a galera tem sobre a multiplicação dos pães e dos peixes efetuada por Jesus.

O primeiro tópico do Apêndice trata de discorrer sobre a dedicatória do livro, dizendo:

O conteúdo altamente filosófico dessa estranha Dedicatória (...) é uma das lições mais surpreendentes de simplicidade e tolerância religiosa (...) (p.245)

Realmente, ele pede piedade para os sábios não muçulmanos, pois seriam condenados a penas eternas. Acho bonito isso, de o sujeito saber que o outro vai pro "inferno" e, em vez de ficar apontando o dedo e ameaçando, pede clemência para o seu deus. 

Só que, infelizmente, esse clima de tolerância perde o sentido perante o final que já falei. Para vocês terem noção, o último capítulo chama "- Segue-me - disse Jesus. - Eu sou o caminho que deves trilhar, a verdade em que deves crer, a vida que deves esperar. Eu sou o caminho sem perigo; a verdade sem erro e a vida sem morte." (p.239)

Tipo isso.

Mas, no geral, aprova o livro?

Sim. Como eu já disse, ele é divertido e instrutivo, embora simples. Além disso, tem umas ilustrações maravilhosas <3

Destaco algumas: p. 78


p. 103


p. 134

Além da moldura perfeita em todos os números de página:



O projeto de miolo e capa é creditado a Ana Sofia Mariz, cujo site tem um monte de outros projetos feitos por ela, inclusive do próprio Malba Tahan.

Ps: vou aceitar O Livro de Aladim e o Amor de Beduíno, ambos do Malba Tahan, e o A Formosa Princesa Magalona, de Rui de Oliveira, de presente de Natal <3

P.p.s.: A princesa Magalona é citada no Dom Quixote C:

Thaís Linhares, apontada no site da Ana Sofia como a autora das ilustrações do miolo, tem um blog em que, inclusive, encontrei um tutorial de aquarela. Desenhos maravilhosos, inclusive. E a moça ainda tem uma tag feminismo no blog. Puro amor <3

 Tenho que postar um croqui dela aqui, da princesa na cadeira de rodas. Morri de fofura

 


  Então, é isso. Leiam, é bem divertido.