Classificação +15 (palavrão, violência leve, homossexualidade - embora isso não devesse ser aviso, mas enfim)
Gênero: romance, drama.
Eu tive essa ideia lendo uma postagem de uma página para lésbicas que perguntava algo como "se aparecesse um cara te oferecendo cinco milhões para deixar de ser lésbica e casar com ele, o que você diria?"
Descubram qual foi a resposta de Eleanor!
Capítulo I - Eleanor
Sábado. Eleanor saiu para caminhar depois do almoço.
Estava anoitecendo quando um homem a chamou. Era visivelmente estrangeiro, e olhava fixamente para o chão.
-Sim?
-Sabe onde posso encontrar uma borracharia?
-O que houve? - ela perguntou antes de olhar o pneu do carro, completamente murcho. - Meu pai é borracheiro, mas não vai conseguir chegar até lá com o pneu nesse estado.
-Não?
-Não - ela riu. - Vai ter que trocar.
-Nunca fiz isso - ele confessou.
Ela abriu os olhos, surpresa:
-Nunca?
Ele não parecia exatamente constrangido por não saber fazer algo tão óbvio.
-O borracheiro não viria até aqui pra trocar?
-Acho difícil.
Ele coçou a cabeça. Realmente não sabia o que fazer.
-Eu te ensino - Eleanor se rendeu. Mas acabou fazendo tudo sozinha, o cara não sabia nem como se apertava um parafuso. Quando terminou, estava toda suja de graxa mas o cara a achou linda assim.
-Você é incrível!
-Agora você pode ir até o borracheiro, arrumar esse pneu.
-Eu te levo.
-O quê?
-Não é na sua casa? O mínimo que eu posso fazer pra te agradecer é te levar em casa.
Ela tinha andado a tarde toda e estava cansada. Acabou aceitando. Não era longe, mas acabaram conversando o tempo todo sobre a banda predileta de Eleonor - estampada na camiseta dela. O rapaz, por coincidência, gostava muito da banda, embora os dois discordassem sobre qual fora o melhor álbum lançado até então.
Quando chegaram, estavam conversando com tamanha empolgação que os pais dela não acreditaram que haviam se conhecido havia menos de meia hora. Ela deixou o novo amigo com o pai e foi tomar um banho.
No dia seguinte, Eleanor foi acordada pela mãe.
-Me deixa dormir, mãe, é domingo - resmungou sonolenta.
-Você precisa ver o que seu namorado mandou.
-Quem? - ela deu um pulo da cama, assustada.
-O Derick, o garoto de ontem. Muito bom rapaz.
-Mãe, nos conhecemos ontem, já disse. Ele não é meu namorado. Sequer é meu amigo. Para com isso.
-É mesmo? Vem ver o que ele mandou.
Ela foi. Um buquê enorme de rosas cor de rosa e uma caixa de bombons a aguardavam.
-Jesus Cristo!
-São lindas, não são?
O pai, porém, estava preocupado.
-Tem certeza que as intenções dele são boas? Temos que conhecer a família. Será que ninguém na vizinhança conhece eles?
-Pai, eu ajudei ele com o pneu e ele está grato. Foi só isso.
-Olha o tamanho desse buquê, filha. Ninguém faz isso só por gratidão.
-E o que eu devo fazer? Devolvo?
-Nada disso! Vai escrever um bilhete agradecendo! - a mãe interrompeu.
-Vou agradecer por ele me agradecer? Isso não faz sentido.
-Vai dizer que o buquê é lindo e que ficou muito feliz com o presente.
-Mãe, se ele está interessado em mim, e eu fizer um negócio desses, ele vai achar que tem chances.
-E por que não teria?
Ela ficou muda.
-Anda, vai escrever, vai.
Pelo menos poderia comer os chocolates - aliás, de excelente qualidade, importados.
“Valeu pelos presentes, adorei os chocolates, são lindos, amei as rosas, são deliciosas”
Ah, merda. Jogou esse bilhete fora.
“Você foi muito gentil em agradecer um favor que lhe prestei sem ter obrigação nenhuma”
Desse ela riu.
Depois de escrever um punhado de bilhetes, finalmente ficou satisfeita com um, que não a comprometia amorosamente e não era grosseiro. E pôde comer os bombons em paz, o que não fez sozinha. Chamou Sônia, sua melhor amiga e grande amor da sua vida, embora ela não tivesse tido nunca coragem de se declarar, e dividiram a caixa, rindo do pobre iludido que achava normal dar um presente desses para uma menina conhecida no dia anterior - e que era lésbica - e mais ainda dos pais dela acharem que poderia haver algo entre os dois.
Na quarta-feira Eleanor recebeu um novo bilhete. Era um convite para jantar do Derick. Ela nem pensou em recusar, porque havia um p.s. “Vou te provar que o Kissing the Shadows é melhor que o Bizarre Nightmare. Spoiler: Robert Stitch”
Ninguém ousaria insinuar que Robert Stitch cantava melhor que o Ted Melbourne. Não na frente de Eleanor.
Ela foi. E sua mãe teve certeza absoluta que daí viriam netos.
O jantar foi excelente. Discutiram um pouco sobre Stitch e Melbourne mas conversaram muito e riram mais ainda. Era meio tarde quando Derick pediu licença para ir ao banheiro e a moça, sozinha, foi conferir o celular. Havia uma mensagem da sua amiga.
“Descobri a verdade sobre Derick. Só vou falar pessoalmente”
Ficou extremamente curiosa - e um pouco apreensiva também. Foi descobrir no dia seguinte. Derick Chalker era filho bastardo de um sheik árabe com uma inglesa. Tinha uma vida de príncipe porque o pai o adorava, mas vivia com a mãe na Inglaterra.
-E ele está atrás de uma esposa.
-Nossa, que pena que eu sou lésbica - riu.
-Dá ele pra mim, amiga?
Eleanor levantou uma sobrancelha. Sônia achou que ela estava com ciúmes do príncipe mas, na verdade, era dela mesma.
-Pega. Se quiser, eu embrulho ele com uma fitinha vermelha.
Mas não quis mais conversar. Estava irritada com a ideia de a amiga querer Derick.
Chegou em casa e viu os pais desesperados, como nunca antes, nem no dia em que ela cortara os cabelos bem curtos.
-Ele vai me matar, Judite, ele vai me matar.
A pobre mulher, maltratada pela vida, só chorava.
-Quanto o senhor deve, meu pai? - a garota perguntou. Tinha algumas economias e esperava salvar a vida do pai com elas, mesmo que seu sonho de morar sozinha fosse adiado por alguns anos.
-Duzentos mil.
-O quê?! Como o senhor foi pegar duzentos paus com um agiota?! O senhor nunca ia ter condições de pagar!
-Respeite o seu pai, Eleanor!
O homem, porém, estava desesperado demais pra exigir respeito:
-Eu peguei cinco mil, mas faz quinze anos já, e ele foi amontoando juros em cima de juros.
A garota caiu em uma cadeira, desesperada. Nunca iriam conseguir duzentos mil.
-Vamos chamar a polícia, pai, temos que fazer alguma coisa!
-É inútil, minha filha.
Ela não conseguiu dormir naquela noite. Chegou a pensar em matar o tal agiota. Claro que não conseguiria. Era apenas uma balconista numa lojinha de 1,99.
No dia seguinte, foi falar com a amiga. Desabafou em prantos. Meu pai vai morrer, repetia soluçando. Sônia não sabia o que dizer. Apenas abraçou-a e a deixou chorar.
Gostaria de dizer que havia um jeito, que iam resolver como já tinham resolvido todos os problemas antes desse. Mas nenhum envolvia duzentos mil.
-Amiga - ela teve um estalo - sei que vai me odiar por isso, mas… pode pedir emprestado.
-Está louca? O banco vai me escravizar se eu fizer isso. Além do mais, que banco emprestaria duzentos contos pra uma pobre fudida como eu?
-Não um banco. O Derick.
-Agora você pirou de vez. Por que ele emprestaria dinheiro pra mim?
-Bem, temos certeza que não vai fazer falta nenhuma pra ele. Ele gasta isso numa noite na balada.
Eleanor sacudiu a cabeça, desolada. Não tinha coragem de pedir ao Derick, era muito orgulhosa.
-Menina, pensa. Você pode pagar um pouquinho por mês, ele não vai sentir falta.
-Se eu pagar mil por mês - e você sabe que eu não tenho tudo isso - vou demorar uns 17 anos pra pagar.
-Amiga, teu pai paga junto… e você sempre pode conseguir um emprego melhor. São só 17 anos. Não é nada perto da vida do seu pai.
Ela tinha razão. Ia engolir o orgulho e pedir o dinheiro.
-Eu vou com você se você quiser.
Ela preferiu ir sozinha. Antes, porém, recebeu uma mensagem da sua mãe, pedindo para encontrá-la na casa da sua avó. Foi.
-Filha - a mãe e a avó estavam sérias - há um jeito de salvar a vida do seu pai. Ele foi contra, disse que preferiria morrer a isso, mas eu sei que você faria qualquer coisa por ele.
-Claro, minha mãe, inclusive…
-Case-se com o agiota.
-O quê?
-Ele disse que perdoaria a dívida se você se casasse com ele.
Eleanor teve que se sentar. Sua cabeça girava. Não, isso não.
-Mãe, eu amo outra pessoa - balbuciou.
-Mais que a seu pai?
A pobre avó, velhinha e cheia de problemas de saúde, pegou na mão da neta.
-Por favor.
A pobre senhora já perdera um filho para o tráfico e não suportaria perder outro, não com aquele coração doente.
-Mãe, vó. Eu tenho um plano para salvar o pai - explicou depois do terceiro copo de água com açúcar.
-Filha, não vá fazer nenhuma besteira.
-Vou pedir emprestado ao Derick - sua voz tremia.
-Está louca?
-Ele é um príncipe, minha mãe. E parece uma pessoa muito boa. Eu pagarei pouco por mês, mas… - sua voz tremia.
-E se não der certo?
-Farei o que a senhora disse - e começou a chorar.
Ela não teve coragem de falar com o Derick. Não queria chorar na frente dele. Enviou-lhe uma carta, dizendo que precisava muito do dinheiro e pagaria aos poucos.
Ele apareceu, no dia seguinte, com rosas e um envelope. Quis falar-lhe na frente dos seus pais. Ajoelhou-se.
-Eu lhe darei tudo o que você precisar, e muito mais. E só peço uma coisa em troca.
Ela tremia.
-Sua mão em casamento.
A moça desabou em prantos. Seus nervos estavam à flor da pele pelos acontecimentos recentes. Infelizmente, todos os presentes atribuíram aquilo à emoção de ser pedida em casamento pelo homem amado, um príncipe num cavalo branco.
Derick colocou a aliança no dedo dela e lhe beijou a mão.
Ela estava sentada chorando. Não podia dizer não. A mãe, emocionada, também chorou porque achou que a pessoa que ela amava era o próprio Derick.
-Você é um anjo - disse depois ao futuro genro - que Deus colocou em nosso caminho.
-Minha senhora, ele disse, anjo é sua filha, com quem tive momentos de grande felicidade, e com quem, se Deus quiser, terei muitos mais.
Ela enxugou os olhos, emocionada.
-Pode entregar isso a ela? Queria dar nas mãos dela mas ela não parece muito bem e não queria parecer indelicado.
-O que é?
-O dinheiro que ela me pediu. Diga a ela que pague suas dívidas e, com o resto, compre o que desejar.
A mulher achou que seria grosseiro conferir o conteúdo do envelope e apenas sorriu.
Ele foi até a sua noiva e beijou-lhe novamente a mão.
-Quero que saiba que hoje é o dia mais feliz da minha vida, Eleanor.
Ela consentiu com a cabeça e soprou:
-Obrigada, Derick.
Logo voltando a chorar.
-Eu vou trazer um copinho de água com açúcar pra ela - disse a vó, que viera passar uns dias com eles.
-Eu queria ficar a noite inteira com você, minha querida, mas está tarde e não seria recomendável um homem passar a noite na casa da noiva.
Os pais já iam dizer que não havia problema, mas ela consentiu. Derick saiu dali achando que noivara com a mulher mais inocente do mundo mas ela só queria chorar nos braços da Sônia.
-Essa minha Eleanor - a avó comentou - uma garota como não se fazem mais.
A mãe estava desapontada mas não surpresa. Eleanor nunca fora vista com nenhum menino. As duas mulheres consolaram a jovem até ela dormir. Em seu sonho, Sônia aparecia para salvá-la.
-x-x-x-
Foram conferir o conteúdo do envelope, depois que a noiva dormiu. Havia um cheque de quinhentos mil.
-Meu Deus!
-Amor, abençoado o dia que você ensinou a sua filha a trocar pneu!
A avó se ajoelhou e começou a rezar sofregamente, agradecendo a Deus e a todos os santos que conhecia por aquele milagre.
-Podemos reformar a casa!
Eleanor acordou de manhã achando que tivera um sonho. Só se deu conta que era real quando viu um bonito anel em seu dedo. Retirou-o e colocou-o de lado, abrindo seu porta joias, onde havia um anel de coco que ganhara de uma ficante havia muitos anos mas nunca tivera coragem de usar. Por incrível que pareça, não chorou. Precisava ser forte agora. Se antes escondia seu verdadeiro eu por medo, agora era obrigada a fazê-lo, pelo bem do seu pai. Seria uma esposa dedicada e fiel, como o pobre Derick merecia - talvez viesse até a amá-lo um dia.
Telefonou para a Sônia.
-Eu pedi pra ele - começou.
- E aí?
-Ele me pediu em casamento.
-Meu, que mané.
-Eu aceitei.
-O quê?!
-Acha que ele me emprestaria o dinheiro se eu dissesse não? E a outra opção era o agiota.
-Mas tu é lésbica!
-Pelo menos terei uma vida confortável.
-Casada com um homem.
-Por favor, Sônia. Não torne as coisas ainda mais difíceis.
Por um momento, quis acreditar que a amiga estava com ciúmes.
-Certo, me desculpe. Mas eu me preocupo com você.
-Eu vou ficar bem, Sônia. Terei uma vida normal, como meus pais sempre sonharam pra mim.
-Normal? Mon amour, você vai ser ryka!
-Só você pra me fazer rir numa hora dessas.
Teve que desligar porque sua mãe chamava.
-Vai com seu pai no banco retirar o dinheiro pra pagar a dívida…
-Sim, minha mãe.
-Você acha melhor reformar a casa ou derrubar e fazer outra?
-Desculpe, mãe, não entendi.
-Ele nos deu quinhentos mil, filha.
-Correção, mãe. Ele ME deu 500. Eu vou dar 200 pro pai salvar a pele dele, mas o dinheiro é meu.
-Filha…
-Eu vou gastar com o que eu quiser.
-Sua ingrata!
-Ingrata, eu? Por acaso fui eu que peguei dinheiro emprestado pra um agiota e demorei QUINZE anos pra pagar? E cogitei entregar minha filha pra um bandido por causa da minha irresponsabilidade?
A discussão não parou por aí. As duas altearam a voz e Eleanor só não disse “eu, que sou sapatão, vou me casar com um homem pra salvar vocês, vocês deviam beijar os meus pés” porque sua avó interveio e mandou-lhe respeitar sua mãe.
Mas ela não cedeu. Pelo menos aquele dinheiro seria seu, já que seu corpo e sua vontade não lhe pertenciam.
Chamou Sônia e as duas foram às compras se divertir. Compraram livros e roupas, maquiagens e videogames, CDs e joias.
-Caramba, e nem chegamos perto de mexer significativamente no valor.
Ela ficou séria e disse:
-Sônia, tem alguma coisa que você queira?
-Como assim?
-Eu compro pra você.
-Amiga, você brigou com a sua mãe por causa disso e vai me dar…
-Porque eu quero dar pra você. Quero dizer, eu fiquei com muita raiva porque ela nem me pediu o dinheiro. Já foi achando que era dela. Já você não. Você até quis pagar as suas coisas.
-Porque não é justo…
-Se não fossem as suas ideias, eles tinham me entregado praquele bandido e sabe Deus o que eu ia passar nas mãos dele. Me diz, amiga, o que você quer.
-Eu… Não, eu não preciso de nada. Vai ver o Ted Melbourne com essa grana, vai.
-Eu não preciso de trezentos paus pra ver um show. Anda, fala.
-Me leva junto então.
-Você não vai falar mesmo?
-Eu queria… uma quitinete - confessou Sônia. -Um apezinho, sabe? Gasto tanto com aluguel…
Sônia saíra fugida da casa da mãe porque simplesmente não conseguia se acertar com o padrasto e a mãe sempre ficava do lado dele.
-Certo, esse vai ser meu presente pra você.
-Amiga, não faça isso, por favor.
-É o meu presente. Só aceita.
Ela não conseguiu recusar. Acharam um lugar bem pequeno e até bonitinho por um preço razoável. Ainda sobrou um bom dinheiro.
-Com o resto vamos ver o Ted.
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Eleanor chegou em casa feliz e cheia de sacolas. Seus pais estavam emburrados, mas ela não ligou. Sabia-se a melhor filha do mundo. Trancou-se no quarto para ouvir música e, por isso, demorou a ouvir a sua avó bater.
-Entra - ela disse.
-Minha querida…
-Oi, vó, a senhora quer ver o que eu comprei?
A senhora estava séria:
-Por que não deu o dinheiro para os seus pais?
-Ué, vó, eu dei.
-Eles querem reformar a casa.
-Bem, vó, eles podiam ter me pedido, se eles queriam tanto.
-Mas a sua mãe…
-Ela veio me pedir o que eu achava que ela devia fazer com o MEU dinheiro. Isso não é justo!
-Você vai ter quanto dinheiro quiser quando se casar com ele.
Eleanor voltou a chorar. Não, sua vida e seu corpo valiam muito mais que qualquer dinheiro no mundo.
-Eleanor?
Ela abraçou a senhora.
-Vó, eu dei tudo que eu tinha pra salvar o pai. Tudo. Eu não tenho mais nada, vó.
-Você não ama o Derick, querida?
-Eu conheço ele há pouco mais de uma semana, vó!
-Quem você ama então, filha?
-Não posso dizer, vó.
-Ele é casado?
-Pior, vó, muito pior.
A velhinha acariciou a neta:
-Você vai aprender a amar o Derick e vai esquecer esse amor impossível, querida.
-Isso nunca vai acontecer - soluçou.
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A vó insistiu que Eleanor deveria contar ao noivo sobre sua vontade de ir ao show do Hidden World, atual banda de Ted Melbourne. Ela obedeceu. Ele pareceu meio decepcionado.
-Não quer que eu vá?
-Não é isso. Eu queria te fazer uma surpresa e te levar no show deles. Você estragou tudo - e riu.
-Mas você não gosta do Ted.
-Gosto sim.
Silêncio constrangedor. Logo após, ele riu:
-Olha, vamos ao show juntos. E leve a sua amiga. Não seria bom viajarmos sozinhos antes de nos casarmos.
Ela nem soube como agradecer.
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Na despedida de solteira, Eleanor bebeu mais do que gostaria. Sônia a sentou em um banco.
-Vou pegar uma água pra você.
-Espera - pediu com uma voz pastosa. -Não me deixa.
-Eu já volto. Só vou pegar…
-Não - abraçou-a com força, e depositou a cabeça no peito dela. -Fixa comigo, por favor.
-Claro, Lê.
Começou, então a acariciar os cabelos da amiga, bem devagar.
-Eu nunca, nunca, nunca vou te deixar.
Encorajada pelo álcool e por essa declaração, Eleanor puxou a amiga e lhe deu um beijo. Foi só um selinho rápido, mas o suficiente para deixá-la paralisada.
-Eu te amo, Sônia - disse e voltou a se aninhar no peito macio dela.
Esta não reagiu mais. Sua boca queimava, seu coração pulava enlouquecido. Acabou conduzindo Eleanor para casa, onde esta dormiu placidamente.
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As duas não se falaram mais. Casamento, festa, viagem. Mas Sônia não conseguia parar de pensar no beijo e Eleanor achou que ela não queria mais vê-la.
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Depois de seis meses, Eleanor, grávida, foi procurar a Sônia mas, no apartamento dela, morava um casalzinho e três crianças.
-Compramos de um casal de meia idade - explicaram. -Não sabemos de nenhuma Sônia.
Ela vendera o seu presente em menos de seis meses!
-Têm o número deles?
-Não…
Procurou na casa da mãe dela, mas foi informada de que ela havia abandonado o marido e ele, depois, fora despejado porque não pagou o aluguel. Não, o dono da casa não tinha notícias de ambos.
Convencida de que Sônia tinha querido afastar-se dela para sempre, Eleanor passou a dedicar-se inteiramente ao marido e ao filho nascituro.
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Bem, galera, aguardem o capítulo II, que eu já comecei a escrever. Se quiserem deixar um comentariozinho, tou aceitando.