Poucos contos e alguns trocados.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Sobre segundas-feiras



Essas duas músicas dos Engenheiros do Hawaii eu acho simplesmente geniais. O instrumental é um espetáculo à parte, mas primeiro eu quero falar das letras.

Eu acho a primeira música melhor, pela própria combinação entre o instrumental (que é a maior diferença entre elas) e a letra, que fala sobre uma segunda-feira figurada, a segunda-feira da história, em que todas as (antigas) utopias de como se deveria fazer um mundo melhor (as festas e os lazeres do fim de semana) acabaram ou perderam o sentido.

(Atenção: eu disse todas as utopias. Nem o cristianismo escapa da "crítica": "onde estão os caras que pregavam no deserto? o deserto continua lá...")

Os lazeres do final de semana acabam e dão lugar à modorrenta, tediosa e depressiva segunda-feira.

Quem nunca se sentiu entediado e preguiçoso numa segunda-feira que atire a primeira pedra. E isso não significa que tu sejas um vagabundo que não gosta de trabalhar. Aliás, mesmo que tu não goste de trabalhar, não há nada de errado nisso, afinal não prejudica ninguém não gostar ou não querer trabalhar.


Voltando ao assunto, eu tinha concluído que vivemos uma espécie de segunda-feira das utopias, onde nada mais faz sentido (pensem na própria pós-modernidade).

Pra quem não entende o que é a pós modernidade, pensem que até a Segunda Guerra Mundial (principalmente) o pensamento dominante era o positivismo, que acreditava que a humanidade ia evoluir, evoluir, evoluir, tanto em termos de tecnologia quanto em sociedade. E depois houve a Guerra. Onde seres humanos altamente evoluídos tecnologicamente foram capazes das maiores atrocidades, como Auschwitz e Hiroshima. E se jogou a derradeira pá de cal sobre o positivismo.

Obs: Machado de Assis já criticava o positivismo, leiam O Alienista.

Obs 2: A teoria Marxista é considerada moderna, pois considera uma linearidade temporal (o tempo como uma evolução, na ordem: sociedade capitalista, revolução, socialismo, comunismo e todos felizes).

A Pós-Modernidade é um gigantesco balaio de gatos, mas ela, basicamente, questiona os parâmetros anteriores e os relativiza. Como um exemplo bem claro, temos as teorias feministas. As teorias modernas tomam "mulher" como um conceito claro e explícito, no sentido de fêmeas humanas, nascidas com vagina. As teorias pós-modernas usam um conceito um tanto nebuloso como a autoafirmação - portanto pessoas designadas como homens pela sociedade podem ser mulheres. Leia um pouco mais sobre isso aqui.
Outro exemplo: arte, para a pós-modernidade, pode ser qualquer coisa.


 A verdade é que eu estava enganada. Basta rolar a timeline do Facebook e ver a quantidade de caras que acenam com a mão invisível um mercado para todos nós e de caras que lutam no dia-a-dia sem perder a ternura jamais.  (sobre isso, recomendo a página Anarcomiguxos, em que esses dois tipos de caras se digladiam diariamente nos comentários). Ah, sim, tem os caras que pregam no deserto também.

Observação: a Andy comentou que todos esses caras são como os comentaristas políticos ou de futebol, que sabem tudo que deve ser feito - de fora - mas na hora H em que eles devem fazer alguma coisa, não fazem nada. O Veríssimo tem uma crônica incrível sobre isso, chamada Salvação, no livro Comédias da Vida Pública, publicado em 1995, pela LePM. Nela, Sarney (o então presidente do Brasil) recebe uma ligação de Deus, que quer aconselhá-lo sobre como contornar a crise no nosso país (sim, galera, não foi o PT que inventou as crises não, elas são muito, mas muito antigas). A crônica diz o seguinte:

E, seguindo o plano de Deus, Sarney convidou o Delfim para o Ministério da Fazenda, para consternação geral. E Funaro e Sayad, afastados de seus cargos, passaram a escrever artigos sobre economia nos jornais. E como todos os economistas, quando não estão no governo e sim escrevendo nos jornais, têm todas as respostas e soluções para os problemas do país, bastou ao Sarney fazer o que seus ex-ministros escreviam, em vez do que o Delfim (de volta ao governo e portanto sem saber o que fazer) mandava, para que tudo começasse a dar certo. E Sarney deu graças a Deus. (p. 183, negrito meu)

Autoexplicativa, eu acho. Outro bom exemplo é o Neto Corintiano, comentarista futebolístico da Band. Ele sempre sabe tudo que deve ser feito pra que determinado time (normalmente o Corínthians) ganhe o jogo. Mas virar técnico de futebol que é bom nada, né?

Depois desse auê todo, eu desisti da minha ideia. Não estamos vivendo uma grande segunda-feira. Mas a sensação de segunda-feira permanecia. E foi aí que eu concluí o óbvio. EU estou vivendo uma segunda-feira, por isso EU  tenho a sensação de segunda-feira eterna. (Lembrando que vemos o mundo do nosso ponto de vista).

E de onde vem essa sensação? Bom, eu tenho depressão. E eu, até agora, não vi metáfora melhor pra depressão que uma eterna segunda-feira. Sabe aquele dia que nada empolga, que você está entediado e cansado e que o mundo parece não girar? Então. E não é simplesmente "reagir", "ter fé em Deus" ou sei lá mais quê que gostem de recomendar. Ou pra quem acha que é: faz isso pra ficar alegre e empolgado numa segunda-feira chuvosa e fria. 

Enfim. Conversei um pouco com a minha psicóloga sobre isso e ela achou que tinha a ver com o meu desgosto com o trabalho (do qual vou sair o quanto antes), mas eu acho que é um pouco mais profunda a coisa, pois essa sensação de segunda-feira no ar (em relação a política, religião, futebol, academia, literatura, música e tudo o mais) já está presente faz um bom tempo, tanto que, quando eu pensei pela primeira vez na ideia de estarmos vivendo uma segunda-feira da história, eu ainda estava na faculdade.

Enfim, acho que é isso. A pergunta que eu queria fazer não pode ser "quem aí também odeia a segunda-feira" mas é a seguinte "como tornar a segunda mais suportável?"

Fica o questionamento. Talvez, um dia, eu traga algumas respostas. 


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