Poucos contos e alguns trocados.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Infâncias #1 ou O guri que descobriu cedo demais que o pai não é foda


Cenas de Itapema #1: anoitece


Outro dia eu fui pra Itapema (pra quem não conhece, é a praia mais gaúcha de SC – ah, vai o povo de Chapecó pra lá também) aí ficamos caminhando no calçadão e tals, bem de turista, e, quando paramos pra comer um milho verde, eu vi um piazinho de camiseta amarela com uma caveirinha fofa de pirata estampada brincando na areia (o piá tava brincando na areia, não a caveira e muito menos o pirata). Confuso? Tá, eu reescrevo.

Quando paramos pra comer milho, eu vi, brincando na areia, um piazinho com...

Não, péra. Quando paramos pra comer milho, eu vi um piazinho brincando na areia. Ele usava uma camiseta amarela com uma caveira de pirata. Ufa.

Melhorou.

E aí eu tava dizendo que o piá de camiseta amarela tava brincando de fazer castelinho de areia com um  cara que, eu acho, era o pai. Afinal, quem além do pai se disporia a perder tempo brincar com o guri (o meu não se dispunha – nunca superei isso).

Bom, a verdade é que, fazendo isso (ou não fazendo, uma vez que ele não brincava), meu pai me poupou de uma baita decepção, como veremos a seguir.

Tava lá o cara com a maior boa vontade do mundo, ajudando o filho a fazer um morro castelo de areia, quando...

Pausa aqui pra explicar um detalhe: eles tinham uma forminha de peixe (daquelas pra tu encher de areia, virar no chão e ficar um montinho de areia em forma de peixe). Lembram disso? 

O desditoso pai encheu aquele troço com areia molhada e queria virar em cima do monte, digo, castelo. Acontece que o cara bateu, bateu, socou, amassou o morro castelo e nada da areia sair. Isso que dá não untar a forma

Até aí, tudo bem, até porque isso é difícil mesmo, ainda mais com areia molhada. O problema – e o que me chamou a atenção – foi a decepção do guri. Ele ficou parado, empezinho, camiseta suja de areia, olhando o pai ser cruelmente massacrado por um peixe plástico!

E eu fiquei olhando a cena. Se havia um pai mais foda que o Superman, ele morreu naquele minuto. Como, pensava o guri, o meu pai, que luta contra monstros e aliens, pode ser derrotado por uma forminha plástica?

E assim o superpai desaparece para dar lugar a um ser derrotado que acabou por lavar a forma-peixe-assassina no mar.

Triste isso, não?

Ps.: depois, mais à noite, vimos golfinhos. (não, não deu pra fotografar eles, tavam muito longe)
Cenas de Itapema #2: Salva-vidas sem teto


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