Poucos contos e alguns trocados.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Sacrifício

Esse conto eu escrevi para um trabalho de Literatura Latina II e, como eu gostei muito, trago pra vocês:


Liber II
II VII
O saepe mecum tempus in ultimum

deducte Bruto militiae duce,

    quis te redonauit Quiritem

          dis patriis Italoque caelo,



Pompei, meorum prime sodalium?

cum quo morantem saepe diem mero

    fregi coronatus nitentis

          malobathro Syrio capillos.



Tecum Philippos et celerem fugam

sensi relicta non bene parmula,

    cum fracta uirtus, et minaces

          turpe solum tetigere mento.



sed me per hostis Mercurius celer

denso pauentem sustulit aere;

    te rursos in bellum resorbens

          unda fretis tulit aestuosis.



ergo obligatam redde Ioui dapem

longaque fessum militia latus

    depone sub lauru mea, nec

          parce cadis tibi destinatis.





obliuioso leuia Massico

ciboria exple; funde capacibus

unguenta de conchis. Quis udo

    deproperare apio coronas





curatue myrto? quem Venus arbitrum

dicet bibendi? non ego sanius

    bacchabor Edonis: recepto

          dulce mihi furere est amico.
Livro 2
II 7


Finalmente de volta, meu amigo:

Ó Pompeu,

        o primeiro dos meus companheiros,

        arrastado tantas vezes comigo ao perigo extremo,

        sob o comando de Bruto,

        com quem muitas vezes passei parte de longos dias

        com copo na mão

        e ornados de flores os cabelos perfumados de aromas da Síria.

        Quem foi que te restituiu

             à Roma,

             aos deuses pátrios,

             e ao céu da Itália?

Compartilhei contigo a derrota dos Filipos

e a rápida fuga dos nossos,

lançando para longe o escudo vergonhoso

quando o valor dos nossos estava quebrado

e quando os mais corajosos enterraram o queixo no solo ensangüentado...



Depois de longa separação, festejemos o reencontro:

       Mas o veloz Mercúrio

       me acompanhou a mim, louco de medo,

       por meio do inimigo através de uma nuvem de poeira

       enquanto nova onda te engoliu

       e te arrastou para novas guerras em mares tempestuosos!



Agora oferece a Júpiter o sacrifício prometido,

           reclina debaixo do meu loureiro o corpo cansado com as longas guerras,

           não poupes as ânforas para ti reservadas.

           Enche polidas taças de Mássico que tudo faz esquecer,

           derrama sobre ti perfumes abundantes de frascos-conchas.

           Quem nos há de tecer logo coroas frescas de aipo ou de murta?

           A quem nomeará Vênus rei do banquete?

           Quero festejar a Baco à moda dos trácios,

           gosto de estar fora de mim quando recupero um amigo.



-Vamos comemorar! – exclamou um soldado, erguendo o copo. Haviam, finalmente, conseguido vencer a guerra, e aquele vinho era mais do que merecido. 

Horácio viu os amigos beberem e rirem e gritarem, extasiados com a vitória. Não podia evitar sorrir. 

-Um grande vinho para um grande dia! – Pompeu deu uns tapas nas costas do poeta. - Vamos beber, porque estamos vivos, não é mesmo? 

Horácio estava feliz, não tinham tido muitas baixas – além do normal, claro – e seu grande amigo estava ali, um pouco alegre pela bebida já, mas vivo e bem. Apesar da grande alegria, um alarme se acendeu em seu espírito:

-Vocês estão bebendo desse vinho?!

Pompeu franziu a testa, estranhando:

-Ué, é um excelente vinho! A melhor safra desde a grande safra da quarta Olimpíada, que até hoje é celebrada pelos poetas!

-Por isso mesmo! – gritou Horácio, puxando o caneco da mão do guerreiro. – Nós não fizemos o sacrifício para agradecer aos deuses pela nossa vitória!

Alguns homens riram, outros se revoltaram:

-E desperdiçar o melhor vinho, o único alimento bom que tomamos em semanas?!

Horácio sentiu o desespero crescer em seu peito. Não podia deixar que fizessem isso. Não podia.

-Não sejais tolos, gritou. A maré de sorte que tivemos hoje veio dos deuses, e Eles podem nos tirar dela!

Mas ninguém o ouvia. Na verdade, ouviam sim. Mas estavam felizes e famintos demais para prestar a atenção a um homem que lhes exortava a parar de comemorar tudo que conseguiram. Pompeu pegou o caneco de volta, e bebeu até o fim.

O poeta desabou, caiu sentado e ficou olhando o chão, temendo o castigo que sabia que viria. Seu amigo sentou-se ao seu lado, lhe ofereceu um pedaço do carneiro que haviam assado.

-Poetas também se cansam quando lutam, disse.

-Os deuses... – murmurou Horácio. Não quis. Não podia comer ali, não podia beber do maravilhoso vinho. 
Não desagradaria a nenhum dos seus deuses.

Pompeu não lhe deu ouvidos, inebriado pela dança e pela festa. Por isso mesmo, não viu o grande amigo se retirar para fazer algumas preces, pedindo perdão pelos seus companheiros.

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Horácio acordou com os primeiros raios de sol na gruta em que fizera as preces. Espreguiçou-se, e se descobriu faminto. Resolveu procurar os amigos para fazer o desjejum com eles, pois agora estava quite com suas obrigações divinas. Desceu com cuidado (a estrada era íngreme) até o local onde os deixara, descobrindo, aterrorizado, os restos do acampamento da noite anterior sob uma multidão de cadáveres entre os quais, decapitado, reconheceu o de Pompeu, coberto pelo escudo que herdara do pai.

O poeta não tentou não chorar. Ele havia... avisado... Deuses, deuses, por quê?! 

Abraçou o belíssimo escudo e abandonou o que havia sido um acampamento vitorioso. Levaria a herança para Roma, para que o filho de Pompeu pudesse ver o que o honrado pai conquistara e deixara escapar entre os dedos. 

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