Poucos contos e alguns trocados.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Minha religião

(não gostaria de criar tretas, mas vou fazer esse post mesmo assim)

Muita gente me pergunta qual a minha religião, e eu sempre hesito antes de responder. Os motivos? Bem... Minha família é espírita e eu já criei muita treta simplesmente por me dizer espírita. Aí eu sempre hesitava antes de dizer "sou espírita". Inclusive, já teve gente que simplesmente parou de falar comigo por causa disso. Hoje, porém, isso não me assusta mais. Não quer mais falar comigo, foda-se, tá me fazendo um favor. 

O motivo pra eu hesitar, atualmente, é outro: eu simplesmente não consigo mais me definir como espírita. Claro que eu conheço mais sobre espiritismo do que muita gente que se diz espírita, mas eu não vou a palestras (que é como eles chamam o culto deles), nunca li as Obras Básicas (só A Gênese, que trata de maneira científica - tão científica quanto possível para o século XIX, quando foi escrita - o que é descrito na Bíblia - incluindo aí os milagres de Jesus e a criação do mundo) e duvido de boa parte do que eles dizem. 

Eu já devo ter escrito por aqui que minha política é questionar a tudo e a todos. 

Enfim. O que eu queria dizer é que eu tenho um modo meu de "acreditar em Deus", como se diz por aí. Eu penso sempre nEle e na criação do Universo com uma metáfora: imagine um quadro (pintado) de um cavalo. Ao ver o quadro, tu vai imaginar, automaticamente, que houve uma inteligência criadora atuando nele - com uma intenção de, obviamente, pintar um cavalo. Agora imagine que se pegue todas as cores necessárias para se pintar um cavalo e se jogue aleatoriamente na tela. Por mais que se façam infinitas telas dessa maneira, nunca vai aparecer uma pintura de um cavalo igual à pintura feita por uma inteligência criadora - o pintor. Isso com uma coisa relativamente simples, como uma pintura. Agora imagina toda a complexidade do Universo e mesmo da vida na Terra. Não consigo conceber que tudo isso aconteceu por acaso. A menos, parafraseando Kardec, é claro, que se atribua uma inteligência ao acaso, o que criaria um novo deus.


Depois, meu lado detrator (a Letícia Do Contra) me lembrou de que ninguém garante que o nosso universo seja um quadro realista. Podemos estar vivendo num universo abstrato (resultado de jogadas aleatórias de tinta no quadro. Como podemos saber, se jamais teremos a visão do todo (acho que a Terra seria um átomo de tinta num quadro de cavalo, perto do universo)? De qualquer maneira, um quadro abstrato funciona como um quadro realista. Ou não? Um quadro abstrato, eu argumentei (no caso, quadro abstrato significa "quadro gerado por tintas jogadas aleatoriamente sobre uma tela"), pode ter lugares que tem muita tinta acumulada, em outros não tem tinta nenhuma e normalmente não forma desenhos - só os que o observador "cria" (como a gente olhando pras nuvens e dizendo: "olha, aquela parece um camelo").A Terra tem 20% de oxigênio na atmosfera. Se tivesse um pouco mais, as coisas podiam pegar fogo espontaneamente. Se tivesse menos, a vida estaria comprometida. Quantas tentativas um universo aleatório precisaria fazer para acertar essa composição de atmosfera?

E eu continuei: a Terra tem vida por ser a combinação de vários fatores, entre os quais: presença de oxigênio, distância adequada do sol, presença de água. Vamos pegar esses três. Ao mesmo tempo, pegamos três dados (cada um representando um dos itens) e jogamos eles. Se caírem três seis, teremos as três condições. Parece difícil? Não é impossível. Agora pense em todas as condições que a Terra tem para a vida - e em como a vida se estrutura - e imagine que se jogue um dado para cada uma delas. E todas as jogadas têm que dar seis.Eu não sou a melhor matemática do mundo, mas sei que as probabilidades disso ocorrer são dadas por:

1/6 x 1/6 x 1/6 x ... ad infinitum, uma fração para cada condição. E vocês lembram como se multiplicam frações? É o número de cima vezes o número de cima, e  o de baixo vezes o de baixo. Assim, no caso que eu citei, as chances de acontecerem as condições seriam 1/216, uma chance em 216. E não é que, se acontecerem essas características em 216 planetas, que obrigatoriamente um vai coincidir. Como eu já disse, não há uma inteligência por trás, e isso não é a base de tentativa e erro. É acaso. Por isso que ninguém ganha na loteria.  Portanto, acho que posso descartar o acaso. Ou não?

Ps: desisti do acaso ao ir a um bingo (para ajudar a escola profissional, onde faço curso de costura), conseguir sete pedras (eram oito pra ganhar) e alguém gritar bingo. É, não era meu dia. 14 prêmios e nada.

E agora, vocês vão me perguntar, e a evolução das espécies, e a ciência, o evolucionismo, etc, etc. Primeiro, o próprio Kardec aceita o evolucionismo (afinal, espécies e espíritos evoluem). Depois, eu lhes digo: quando um pintor cria o seu quadro de cavalo, ele não passa por várias etapas até finalmente finalizar o desenho? (finalmente finalizar é ótima). O que eu não acredito é que haja uma evolução. Afinal, não consigo afirmar que dinossauros eram menos evoluídos que gatos, por exemplo. O que houve foi uma reacomodação do sistema. (essa ideia de evolução é bem especista também, afinal nos achamos o cume do processo evolutivo - pelo menos materialmente falando) E bactérias e seres unicelulares continuam existindo, dividindo espaço com seres complexos e pluricelulares. 

Cês tão ligados que essa imagem não tem nada a ver com a teoria do Darwin, né?

O que eu sempre penso, é se existe mesmo um Deus bom, preocupado com a nossa felicidade. Afinal, num mundo complexo e dinâmico, felicidade e infelicidade coexistem de maneira organizada, de modo que isso faz parte da estrutura do sistema. Então, foda-se o indivíduo humano. Por outro lado, se o sistema é complexo e perfeito - como parece ser, até o que descobrimos - ele funciona de maneira tão perfeita que dispensa que a inteligência criadora (Deus, no caso) fique fiscalizando para ver se ele funciona bem, então Ele teria condições de se preocupar com outras coisas (no caso, nós) ou até para descansar no sétimo dia, como diz a Bíblia.

Outra coisa a que eu não consegui chegar a um consenso (sim, eu discuto comigo mesma) é se o Universo continua a ser criado. Segundo a Bíblia, ele está concluído. Segundo os espíritas (isso eu não li num livro do Kardec, sorry), ele continua a ser criado. E agora? Eu andei pensando que, se Deus é perfeito, ele deveria criar um sistema perfeito - e "perfeito" vem do latim per-factum, isso é, concluído (o prefixo per significa "até o fim"). Por outro lado, como as espécies evoluem - se adaptam, ou o sistema se reacomoda -, a criação pode estar acontecendo até hoje - o quadro do cavalo ainda não foi concluído, embora esteja perfeito (livre de erros). Não há nenhuma evidência que o universo esteja concluído agora, afinal, ele continua a se transformar - se expandindo, por exemplo. Não parece, para nós, a "mão divina" porque o sistema é perfeito e não precisa de ajustes.

De todo o modo, se a criação continua acontecendo, o sistema perfeito, mesmo não precisando de ajustes, ainda assim absorveria a atenção divina, de modo que voltamos à ideia de um deus que não tá dando a menor importância para nossas picuinhas, embora elas tomem, às vezes, a forma de um câncer terminal. Por outro lado, Deus deveria ser onisciente e onipotente, de modo que poderia, mesmo absorvido em uma eterna criação do Universo, dar atenção a cada um de nossos problemas.Mas aí voltamos ao problema de "por que sofremos?"  O espiritismo tem uma resposta para essa pergunta, e ela não é ruim, embora não me satisfaça completamente. Segundo a doutrina, o nosso sofrimento tem como objetivo a nossa evolução espiritual (ou, como eu gosto de chamar, nossa adequação ao sistema - afinal, nosso sofrimento é causado por nós mesmos). O que não me desce é que, se Deus é todo poderoso, por que já não nos criou perfeitamente adaptados ao sistema? Por que precisamos passar por todas essas transformações dolorosas?

Meu outro lado argumentou que, na história de Adão e Eva, eles foram criados perfeitamente adaptados ao sistema e caíram justamente por isso, por não conhecer o mal. Se passássemos por todas as etapas, já conheceríamos o mal e estaríamos "vacinados" contra ele. Não me satisfez 100%, mas já é um começo. Lembrando que essa "teoria" é minha: eu nunca li sobre isso em lugar nenhum. 

Agora me lembrei de uma tirinha do Borges que eu li uma vez, em que ele diz, numa entrevista, que publicou o livro para parar de escrevê-lo. O fenômeno da eterna criação deve ser parecido. (E aí concluímos que Borges é semelhante a Deus hauahuh).

Plus: esses dias, passei na frente de um carrinho daquelas testemunhas de Jeová (aquelas que entregam revistinhas) e tinha um punhado de "manchetes": "ame a Deus", "escute a Deus" e coisas do tipo. Deus deve ser a única palavra da língua portuguesa que aceita ser objeto direto preposicionado de tantos verbos.

Então, sei lá. Acabei não elencando os motivos pelos quais discordo do espiritismo e o post já tá enorme. Um dos principais pontos (pra não dizerem que concordei 100% com eles) é que, pra a minha mãe (pode ser que seja só ela, e estou julgando todos os espíritas por ela, mas enfim) , tudo é influência dos espíritos. Não quero ir no Centro Espírita. "Tu não quer ir porque tu precisa ir, tem alguém contigo que não gosta de lá porque vai te ajudar e ele quer te prejudicar". Tô com fome. "Tem alguém com fome do teu lado". Tô com sono. "Tem alguém com sono perto de ti, já senti sono também agora". Odeio fulano. "Tem alguém do teu lado que odeia ele e tá te influenciando". Etc, etc, etc. Não, pelo amor de Deus! Se tudo que eu faço é "influência dos espíritos", então eu não tenho autonomia nenhuma, e também não tenho nenhuma responsabilidade pelo que faço, portanto, já atingi minha evolução espiritual - cadê aquela colônia que mostram nos romances onde todos são belos e felizes? (Parece até o céu católico)

É claro que isso não faz o menor sentido. Talvez espíritos afins se reúnam a nós quando fazemos coisas (por exemplo, gosto de cozinhar e me aparece um guia enquanto cozinho) mas eles não vão controlar a gente, pelamor. No máximo dar intuições  mas, mesmo assim, a maioria das nossas intuições são dadas por nós mesmos, após analisarmos a situação. Por exemplo, outro dia minha mãe disse pra mim "liguei pra fulana e adivinha o que ela me contou?" eu "que a beltrana tá grávida" minha mãe "nossa, que mediunidade poderosa". Na verdade, eu conhecia o contexto (os problemas que a beltrana já tem com o primeiro filho - e com o marido mala -, o quanto a fulana sofre com isso, etc, etc) e vi a cara que a minha mãe fez ao me dar a notícia. Portanto, é gravidez. E foi essa a minha intuição. Como diria Sherlock Holmes, "Elementar, caro Watson". Somos todos um pouco Sherlocks.

Vou parar por aqui que o texto tá gigantesco. Quando eu lembrar de alguma outra coisa, eu posto.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Metas Mensais para 2015: Setembro/Outubro

E eis-me aqui, fazendo as metas mensais do mês na metade do bendito.



Então, esta tag foi desenvolvida pelo blog Memórias de Uma Guerreira. Essa tag consiste em, no começo de cada mês, fazer uma lista de 5 a 10 metas para cumprir durante ele, de preferência que sejam fáceis de serem cumpridas. No final do mês, fazer um post explicando quais metas foram cumpridas e quais não foram. Se der tudo certo, no final do ano terá uma lista de 60 a 120 metas cumpridas! uhu! Cada mês devem-se renovar as metas.


REGRAS
  • Faça uma lista de 5 a 10 metas todo início de mês.
  • Volte ao final do mês com uma postagem comentando quais metas foram cumpridas ou não.
  • Não deixe de taguear o blog Memórias de Uma Guerreira dando os devidos créditos à tag desenvolvida.
  • Marque 5 blogs para fazerem também esta tag!
Metas de Setembro

1. Continuar estudando para os concursos
2. Continuar estudando pro vestibular
3. Costurar alguma peça sozinha, sem a ajuda da profs Salete
4. Caminhar 2x por semana
5. Mudar radicalmente a minha cara
 
Taí. Eu devo ter batido um recorde esse mês. Não cumpri absolutamente nenhuma das metas. Eu sou genial.

Metas para Outubro (que já tá na metade)

1. Cumprir as metas
2. Mudar minha cara
3. Parar de encanar com as coisas que eu deixo de fazer
4. Evitar tretas (se eu conseguir ficar uma semana sem brigar com ninguém, considerarei cumprida)

São metas bem impalpáveis (menos a segunda). Vamos ver aonde isso vai dar.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Dia das Crianças

Aos dois anos, eu já era uma leitora



Já que hoje é dia das crianças, eu resolvi postar uma coisa que me incomodava pra caramba quando eu era criança: como diabos alguém "empresta dinheiro"? Na minha cabeça, dinheiro era pra se usar. E como alguém podia usar (gastar) o dinheiro e devolvê-lo depois? Eu achava que a pessoa tinha que devolver as mesmas notas! E eu ficava matutando essa ideia (eu já vinha com as minhas filosofices quando era pequena). Pensando bem, isso faz MUITO sentido. Ou não.

Chimarrão e gibi


Uma foto publicada por Letícia Colorada (@leeh_colorada) em
Nessa época eu já tinha uns sete anos


sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Sobre possessivos e imperativo

E aí, galere? Tudo suave? O post de hoje é sobre a nossa amada língua portuguesa. Não sei vocês, mas eu amo a nossa língua (senão não tinha feito letras, né) e principalmente estudar e entender o funcionamento dela - tanto na gramática tradicional quanto na linguística moderna. 

Enfim. Eu queria falar sobre uma coisa que sempre me incomodou entre as pessoas "leigas" em gramática. O possessivo. Nunca vou me esquecer de que fui a um Centro Espírita (já faz muito tempo mesmo) e o palestrante disse, lá pelas tantas, que era errado dizer "minha mãe", "meu filho", porque, na verdade, não somos donos de ninguém. E, esses dias, li no blog da Lola um post dizendo que é errado dizer "tenho um cachorro", "sou dono de duas gatas", tratando o animal como propriedade e, lá pelas tantas, apareceu alguém dizendo que não seria certo dizer "meu gato". 

Aaaaaaaaaah, parem, só parem! Não é porque os pronomes chamam possessivos que eles apenas servem para designar posse.

Pra quem não sabe, pronomes possessivos são o meu, teu, seu, nosso, vosso, dele e seus respectivos femininos e plurais.
 Esse é o nome deles, mas eles servem pra muitas coisas. Por exemplo, "meu jardineiro" - indica que ele trabalha pra mim. "Meu chefe" - indica que ele manda em mim (pelo menos no serviço). Minha cidade. Meu país. Minha rua. Minha escola. Meu curso. Minha doença. Minha banda preferida. Meu médico. Meu vizinho. Minha senhora. Minha religião. Meu Deus.  Nenhuma dessas coisas nos pertencem, mas usamos o possessivo mesmo assim. 

Outra coisa que também suscita dúvidas é o imperativo. Gente, eu sei que "impero" significa "dar ordens" em latim, mas o imperativo não serve só pra isso. Pra quem não lembra o que é imperativo, é o seguinte tempo:

AFIRMATIVO                 NEGATIVO
ama (tu)                            não ames (tu)
ame (você)                       não ame (você)
amemos (nós)                   não amemos (nós)
amai (vós)                        não ameis (vós)
amem (vocês)                  não amem (vocês)

Pra vocês terem uma noção de que o imperativo não é só pra dar ordens, pensem nas orações que aprenderam quando crianças:

Pai Nosso, que estais nos céus (...) o pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas (...) livrai-nos do mal e não nos deixeis cair em tentação (...) 

Eu negritei os imperativos, pra facilitar a vida de vocês. Alguém acha mesmo que o sujeito que reza o pai nosso está dando ordens pra Deus? 

Outros exemplos:

Me dá uma esmola, pelo amor de Deus! - implorar
Só me dá um minuto. - pedido
Vai nessa. - ironia
Desce e arrasa! - incentivo
Durmam com os anjos. - desejo
Use camisinha. - recomendação
Faça o auto-exame (outubro rosa, galera) - conselho
"Não tenha medo de usar as palavras certas: machista, racista, homofóbico..." fonte
Vamos todos prestigiar! (amiga minha sobre certo evento) - convite

fonte
Portanto, galera, não se deixem enganar pelos nomes das classes gramaticais. 

Por hoje é só!