Gostei dessa imagem, parece a foto que sempre botam do Shakespeare haha |
Já faz um tempinho que eu li o Otelo, do Shakespeare (o criador do humano, segundo o guru da classe média sofre, Harold Bloom). Quando o professor de brasileira dois passou Dom Casmurro pra gente, há sei lá, um ano, eu perguntei pra ele se era bom ler o Otelo antes, depois ou junto. (Todo o mundo sabe que o Machado se inspirou em Otelo pra escrever o Dom Casmurro). Sabem o que ele me respondeu? "Otelo é bom ler sempre, com ou sem Casmurro".
Eu não li naquela época, não deu tempo, e fui ler esse semestre, por minha conta e risco. A propósito: essas minhas impressões vão ter spoilers, se não tiver afim de ver spoilers acho bom ler outra coisa haha.
Começando. O nome todo da obra é "Otelo, o mouro de Veneza" (Veneza é aquela cidade da Itália que tem os canais entre as casas e passam aqueles barquinhos supercharmosos). Acontece, meus caros, que o Otelo não é mouro. (Trilha sonora de suspense). Ele é negro! Segundo o editor/tradutor/revisor, para Shakespeare, mouro, negro e pagão (acho que a palavra era essa, eu já devolvi o livro há eras) são a mesma coisa. Antes que vocês xinguem o Shakespeare, leiam a minha "resenha" até o fim.
O Iago, que é o vilão, é um sujeito simplesmente sem escrúpulos que, hoje, seria um leitor assíduo da Veja. Enfim. O Otelo, que é general (um sujeito absolutamente foda, porque, com o clima racista que paira entre as pessoas no livro, conseguiu virar general de uma cidade exclusivamente de brancos né. Além de que ele é super respeitado), em vez de promover o Iago, promoveu um rapaz que é matemático, eu acho. O Iago ficou pê da vida e resolveu sacanear o Otelo.
Desdêmona é uma guria bem ao clássico mocinha de romance romântico: loirinha, obediente, meiga, bonitinha, etc, etc, etc. Ela acaba se apaixonando pelo Otelo porque ele ficava contando as histórias das aventuras que ele viveu, da vida sofrida que ele teve. Casou com ele contra a vontade do pai e todo o mundo fica falando que isso não vai durar, porque ela casou com o Otelo por peninha e, como ele é uma criatura medonha e repulsiva (como eles dizem), ela logo vai se arrepender e largar ele. E é aí que o Iago resolve atacar. Ele arma todo um plano (mais enrolado que a saga do Angra tentando descolar um vocalista novo e 879899878976567890 de vezes mais engenhoso que qualquer plano de vilã de novela da Globo pra separar o mocinho da mocinha) de modo que ele ainda passe por bonzinho! (enfim, um cara foda)
Ele usa o matemático promovido pra parecer que a Desdêmona tá traindo o Otelo com ele e mais um manolo que é gamadão na Desdêmona (e ela, aparentemente, nem sabe que esse cara existe).
Enfim. Agora que vocês conhecem a história, eu vou dizer porque eu discordo da opinião do revisor/editor do livro. As palavras negro e mouro são, realmente, usadas como sinônimos no livro. Mas o comportamento do Otelo desmente o que todas as pessoas dizem sobre ele (exceto uma fala do Iago, que diz que ele é crédulo, mas o próprio Iago, que é um poço de racismo e de machismo, não relaciona essa credulidade com a cor do Otelo). Ele é gentil, inteligente, competente e etc. Ele só trata mal a Desdêmona quando "descobre" que ela tá traindo ele (chega a bater nela) mas esse comportamento, pelo que o resto dos personagens dizem, é um comportamento normal de um sujeito chifrado (Shakespeare viveu nos séculos XVI-XVII).
O Iago também faz uma série de afirmações bem machistas, mas as mulheres do livro desmentem isso e ele, como eu já disse, é um sujeito desprezível.
Enfim. Acho que dá pra sustentar que Shakespeare não concordava com essas opiniões sobre os negros e as mulheres, embora, para isso, tenha que se fazer uma análise cuidadosa da obra (é uma peça teatral, portanto não tem narrador) e das demais peças dele.
Outro meu pensamento foi que o Shakespeare pudesse estar pautado pelo mito do "bom selvagem", que Russeau defendia e que pode ser visto em romances tipo o Guarani e Iracema, do Alencar. Não sei se é esse o caso, mas eles achavam que os povos "não civilizados" ou seja, não-europeus, eram todos bonzinhos e não corrompidos. Um pensamento romântico e idealizado, enfim.
Pra finalizar, eu lembro que essa peça é uma tragédia e, portanto, morre todo o mundo no final.
Ah, e, antes que eu me esqueça: a melhor personagem do livro é a Bianca, mulher do Iago e dama de companhia da Desdêmona. Pra vocês terem uma noção, no meio do livro ela pergunta pra Desdêmona: "tu botaria chifre no teu marido?" Aí a Desdêmona: "Não! Nunca! Tu botaria?" Bianca "Eu sim! Não por umas joias ou uns vestidos, mas, pelo mundo inteiro, eu botaria!". Hahahaha. Depois "se eles querem que a gente seja fiel, que tratem a gente bem!". Assim como a Desdêmona, ela é um estereótipo feminino, mas eu acho esse estereótipo superdivertido haha
Outra coisa: Shakespeare não inventou essa história. Ela já existia, é de um dramaturgo italiano, não lembro quem. Shakespeare, obviamente, mudou muito e transformou numa das maiores obras da literatura ocidental (depois de Hamlet e da Odisséia haha).
Leiam, velho, é muito legal. Eu li em duas vezes que peguei o livro (é fininho e foda).
Reparem no brinco haha |
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