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sexta-feira, 20 de março de 2015

A Batalha do Apocalipse - Eduardo Spohr

Eu peguei esse livro sem nunca ter ouvido falar dele, o que me fez imaginar que ele saísse um pouco do mainstream. Depois, li a orelha do livro, em que um outro escritor compara Eduardo Spohr ao Tolkien (autor do Senhor dos Anéis). Puta responsabilidade, não acham? E, a meu ver, Spohr precisa comer muito pirão com tainha pra chegar no nível do Tolkien (quem não precisa?). Continuarei falando sobre isso a seguir.

O personagem principal é Ablon, um anjo (com aparência nórdica, cavanhaque e cabelos compridos) degredado do paraíso por discordar das políticas celestes (sim, o termo usado é esse mesmo, políticas). Ele e mais dezessete renegados uniram-se contra o arcanjo Miguel, o ditador do universo após o descanso de Yahweh (Deus) no sétimo dia, após criar o universo. Miguel tem inveja e ódio da raça humana, privilegiada pelo Criador com alma e livre-arbítrio e planeja destruí-la.

A outra personagem é Shamira, uma feiticeira que conhece o segredo da vida e juventude eternas e que se apaixona pelo anjo. Ela, com sua poderosa magia, o  ajuda a vencer os perigos a que é exposto, por ser um perseguido tanto pelos anjos que vivem no paraíso quanto pelos demônios. 

E aí acabam os personagens do livro. Os demais são apenas figurantes, sem história ou profundidade, que chegam, cumprem a "missão" e morrem (caralho, spoilers!). Ablon acumula todas as funções do livro. Ele é o líder dos anjos renegados, o único deles que sobreviveu, o cara que sempre protegeu a humanidade, o manolo fodão que nunca se engana, aquele que sempre tem resposta pra tudo... Uma hora isso cansa.

Já que o autor foi comparado ao Tolkien, permitam-me fazer uma pequena digressão: no Senhor dos Anéis, o protagonista é o Frodo, mas o "líder" é o Aragorn, o fodão que sempre tem resposta pra tudo é o Gandalf, contam-se as histórias dos demais personagens. Pensem na importância que têm personagens secundários como Faramir e Denethor.

Quanto ao enredo: o apocalipse está próximo e o tecido da realidade está se rompendo (o tecido separa o mundo físico do espiritual). Quando o tecido enfim tiver se rompido, haverá o apocalipse e  Deus acordará para separar o joio do trigo. Enquanto isso, Ablon é perseguidos pelos anjos do paraíso e fica a pergunta: por quê? E por que Miguel quer tanto que ocorra o Juízo Final, uma vez que ele foi extremamente injusto durante o seu reinado e provavelmente será o primeiro a ser condenado?

E a surpresa: as respostas colam! O livro é bem articulado e as coisas fazem sentido entre si. (Menos uma coisa, mas aí é spoiler e eu reservei pra escrever lá embaixo).

O livro é realmente um épico, com descrições detalhadas tanto de civilizações quanto de batalhas grandiosas. Ablon chega a ir para o inferno (como Ulisses, Enéias, Dante e - por que não? - Aragorn - considero a viagem que ele empreende para convencer os espectros desertores uma ida ao inferno) duas vezes! O livro também começa in media res - isto é, pela metade da história, e o começo vai sendo contado em flashback. O problema é que os flashbacks são legais, mas não têm tanta relação com a história assim.

Como todo bom épico, é uma imensa guerra do bem contra o mal. Ele termina com a batalha do Armagedon, na qual os anjos pelejam pra decidir quem vai obter o controle do universo daí por diante.

Algumas passagens lembram muito mais filmes e animes - como aquela cena clássica em que os dois oponentes se atacam e caem em pé um de costas para o outro; o herói se levanta e vai saindo; o antagonista grita "eu ainda não acabei contigo!"; o herói responde "mas eu já" e o antagonista morre/cai. Isso eu acho extremamente forçado, ainda mais num livro, em que tu podia simplesmente suprimir a luta. Isso eu considero um furo feio. Cadê o estilo? Basear-se em cenas clichês de animes é uó. (A tempo: esse episódio não é isolado).

Enfim. O livro é legal, apesar de só ter dois personagens e não ser um primor de estilo. E eu gostei do final - tirando a parte que eu disse que não fechou - que eu explico nos spoilers, a seguir.

Agora, os spoilers! Passe o mouse pra ler.

No fim do livro, Gabriel revela que Deus, na verdade, não dormiu ao fim do sexto dia. Ele dispersou sua essência (morreu) e, dessa maneira, deu alma aos homens. Eu era doida pra ver Deus acordando no final do livro! Mas enfim. O que eu queria dizer é: por que diabos Deus marcou um fim para a sua amada criação, sendo que Ele seria destruído também?

Depois do fim, em que Miguel é destruído e só sobram três anjos vivos, eles decidem "voltar" a roda do tempo. Agora, eu lhes pergunto: voltando a roda do tempo, não se voltou tudo a como tava antes? Puseram Miguel de volta do trono do universo, etc e tal? Isso ficou confuso.


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